O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A review de Slotherhouse possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.
OS CINÉFILOS RECLAMAM COM FREQUÊNCIA DA FALTA DE ORIGINALIDADE EM HOLLYWOOD. No entanto, quando vejo um filme como Slotherhouse (Matthew Goodhue, 2023) pergunto se somos exigentes demais para apreciar obras ousadas e divertidas assim ou se apenas gostamos de exercer nosso livre direito de reclamar.
Slotherhouse conta a história (bizarra) de um bicho-preguiça levado para ser o pet de uma jovem ansiosa para ser popular. O problema é que a criatura é um tanto temperamental e gosta de cometer uns assassinos de leve como parte da sua rotina.
Pela premissa, é óbvio que o longa de Goodhue é totalmente descompromissado com qualquer noção de bom-senso ou lógica. Porém, a grande questão aqui, é como nós, como espectadores, recebemos um filme assim. É muito cômodo e prático reclamar que “não tem lógica”, “é bobo”, “não faz sentido”. Só que você já se perguntou se a sua análise não está focada apenas na sua própria perspectiva/expectativa?
Digo isso porque dentro da sua lógica interna (o que é totalmente diferente da lógica do mundo real), Slotherhouse é muito coeso. Se a premissa é absurda, o problema seria tentar racionalizar e explicar demais tudo que acontece, como se essa fosse a obrigação da narrativa. Claro que a liberdade criativa precisa ser avaliada pelo que é (e os problemas que têm). Por exemplo, NADA contra os efeitos visuais da preguiça (eles são propositalmente toscos), mas podemos questionar decisões do roteiro (como assim a protagonista entra em uma casa e tira o animal de lá sem conversar com ninguém?).
Uma das minhas sequências favoritas é quando a preguiça ataca sua primeira vítima na universidade. A tal garota tinha acabado de se livrar do bicho (péssima decisão) e precisava extravasar suas emoções transando com o primeiro cara que viu pela frente. É nesse momento que a preguiça envenena (hahaha) e derruba a garota. As luzes do ambiente começam a piscar e cada vez que existe iluminação, a preguiça se aproxima mais e mais da sua vítima. É o famoso tosco que funciona.
Por baixo de todos os massacres e mortes, temos também uma mensagem crítica contra o padrão de comportamento jovem atual. Com a atenção sempre focada nos seus smartphones e na popularidade nas redes sociais, Slotherhouse ataca essa vaidade com um humor mais afiado que as unhas da preguiça. Uma pena que o roteiro não se permita aprofundar com mais substância por esse caminho.
Em um ano que acompanhamos o lançamento de uma versão slasher de O Ursinho Pooh, um urso das neves de Minas Gerais em O Urso do Pó Branco, e o esquisito Good Boy, dedicar tempo para se divertir com Slotherhouse não é nenhum grande absurdo. Principalmente para quem tem tempo livre ou gosta muito de filmes toscos.