Creed III

O terceiro filme do spin-off de “Rocky”, a franquia de luta mais famosa do cinema, estreia em 2 de março nos cinemas brasileiros, trazendo o Michael B. Jordan em seu primeiro trabalho como diretor de longa-metragem.

Dando sequência aos acontecimentos de “Creed: Nascido para Lutar” (2015) e “Creed: II” (2018), encontramos um Adonis Creed (Michael B. Jordan) que dominou o mundo do boxe e se aposentou dos ringues como campeão mundial. Agora, treina o atual campeão dos pesos-pesados e se dedica à sua família. É quando Damian (Jonathan Majors), seu amigo de infância e ex-prodígio do boxe amador sai da prisão. Após cumprir uma sentença de quase duas décadas, Damian pede ajuda à Creed para finalmente ter sua chance no boxe profissional.

Este é o primeiro filme da franquia sem a presença de Sylvester Stallone em seu icônico papel de Rocky Balboa, que trabalhou apenas na produção do longa. A escolha pelo não retorno do antigo protagonista da franquia representava um risco que, felizmente, se transformou num benefício. A ausência do personagem de Stallone se provou como uma oportunidade muito bem aproveitada. Após um encerramento de sua participação na história em “Creed: II”, “Creed: III” provou que o spin-off tem seu próprio mérito e valor, se sustentando em sua própria história e personagens.

O roteiro não é inovador e revolucionário, mas acerta com um antagonista mais multifacetado e que tem motivações fortes para suas ações. O personagem de Jonathan Majors (“Homem Formiga e a Vespa: Quantumania”) se afasta de uma versão caricata de vilão, conseguindo apresentar nuances e uma história de origem bem contada. Isso se dá graças ao roteiro e à atuação sempre competente de Majors e se diferencia do antagonista de “Creed: II”. Falando nele, foi bem satisfatório ver o retorno de Florian Munteanu como Drago. Aqui são apresentadas mais nuances do personagem do que no filme anterior, que tinha o caracterizado de forma bastante rasa, mesmo com todo o potencial de sua história de origem.

O filme acerta também ao dar ainda mais espaço para Bianca, a personagem de Tessa Thompson (“MIB: Internacional”). Ela traz riqueza à história com a sua própria trajetória, não sendo retratada apenas como o interesse amoroso do protagonista. Em especial neste terceiro capítulo, é responsável por trazer reflexões para o protagonista que tantas vezes são raras em filmes de lutadores, gerando um desenvolvimento para além do pobre e clássico “vamos resolver isso na porrada”.

Junto a isso, tem-se a inserção de outra nova personagem na franquia, a filha de Bianca e Adonis, Amara Creed, interpretada pela novata Mila Davis-Kent. É uma adição interessantíssima, trazendo mais nuances da vida familiar de Adonis e maior presença da lingua de sinais (American Sign Language – ASL) durante o filme. E com tudo que acontece, não podemos descartar um novo spin-off da franquia daqui há 15 anos, dessa vez com a Amara se tornando uma boxeadora profissional. E como seria incrível e disruptivo se essa franquia trouxesse uma protagonista feminina e com deficiência auditiva para um clássico filme de luta!

Por fim, é preciso destacar a estreia competente de Michael B. Jordan na direção, que acerta no tom do projeto, respeitando os filmes anteriores e trazendo identidade própria a este. Se destaca também a inventividade de algumas cenas de luta, que são intercaladas com memórias dos lutadores. Isso trouxe um tom mais onírico e maior profundidade psicológica à trama e aos embates.

“Creed: III” talvez não consiga superar o excelente “Creed: Nascido para Lutar” de Ryan Coogler. Mas, sem dúvidas, é um ótimo terceiro capítulo para esse spin-off que ampliou a saga dos Balboa e dos Creed. Essa jornada se iniciou em 1976 com “Rocky: Um Lutador”, e não parece que se encerrará por aqui. E se a qualidade dos futuros filmes se manter assim, os espectadores só tem a ganhar.