CODA- No Ritmo do Coração

O Festival de Sundance, realizado anualmente no mês de janeiro desde 1978 na cidade de Park City no estado de Utah, é a primeira competição de cinema do ano  e é reconhecido como um dos eventos mais importantes para o cinema independente nos Estados Unidos. Em 2021, o vencedor do festival, CODA: No Ritmo do Coração, vem sendo aclamado pela crítica especializada e acumula prêmios e indicações no Gotham Awards, Globo de Ouro e Critics Choice.  No Brasil, No Ritmo do Coração está no catálogo do Prime Vídeo. 

Escrito e dirigido por Sian Heder (Tallulah – 2015), CODA foi adquirido pela Apple TV+ e é uma adaptação do francês A Família Bélier de 2014. Em inglês a sigla CODA, significa Child of Deaf Adult, logo, na história a adolescente Ruby Rossi (Emilia Jones) é a única ouvinte em uma família surda e por isso ela é responsável por ajudar nos negócios de pesca dos pais, sendo a intérprete deles em vários lugares. 

A vida de Ruby começa a mudar quando ela se inscreve no grupo de canto de sua escola e descobre sua paixão por cantar. A partir desse momento, a jovem passa a encontrar dificuldades em conciliar o seu sonho com a rotina de sua família e se vê em meio a diversos conflitos pessoais. Nesse sentido, a trama perpassa por esses problemas de maneira plausível, fazendo um bom uso dos clichês de dramas de amadurecimento.  

 É interessante dizer que este remake consegue se distanciar do original já na escalação do elenco: toda a família de Ruby é vivida por atores surdos na vida real. Tal fato, torna a produção inclusiva e a narrativa infinitamente mais verossímil. Além disso, a mãe de Ruby, Jackie Rossi, interpretada pela incrível Marlee Matlin, o pai Frank Rossi (Troy Kotsur) e o irmão Leo Rossi (Daniel Durant) possuem tanta química entre si e com Emilia Jones, que nos primeiros cinco minutos de longa você  está complemente investido na jornada deles. 

Emilia Jones em CODA.

Por falar em acertos na escalação, a atriz britânica Emilia Jones foi uma grata surpresa no papel de protagonista. Para se tornar Ruby, Jones além de possuir habilidades reais de canto, uma vez que as performances foram gravadas ao vivo, precisou aprender Língua de Sinais Americana, treinar o sotaque americano e praticar pescaria. Nesse sentido, o nível de atuação exigido era alto e Emília desempenhou muito naturalmente, assim, merecidamente ela  ganhou o prêmio de Atriz Revelação do Gotham Awards. Seu talento está no radar de Hollywood. 

Além disso, a sua personagem possui uma constante sensação de não pertencimento. Ela está sempre entre o mundo que escuta e o que não escuta. Dessa forma, quando Ruby está traduzindo para a sua família, ela é mais confiante por estar sempre liderando as situações, porém, no colégio, ela se comporta de maneira mais tímida e reservada, e tem poucos amigos.  A escolha das músicas na trilha sonora faz uma boa conexão com os sentimentos experienciados por Ruby.

 Ao participar do coral de sua escola, ela começa a descobrir seus gostos, desejos e vontades em um processo mais autônomo. O professor de música e regente do coral Bernardo Villalobos, figura divertida interpretado por Eugenio Derbez, se torna o seu mentor, ajudando Ruby a superar o seu medo de abandonar os pais e atingir todo seu potencial musical. Bernardo é o professor que incentiva, que chama a atenção e torce pelo sucesso dos alunos que amamos ter na escola. 

Bem como as atuações estão ótimas, as temáticas definidas pelo roteiro são feitas de maneira muito sensível. Frequentemente, olhamos para uma “dramédia” com certo desprestígio e subestimamos o poder desse subgênero. Para citar o crítico de cinema Dalenogare Neto, CODA: No Ritmo do Coração, é o tipo de  filme que faria muito sucesso na Sessão da Tarde. Essa definição, é um elogio adequado, pois, para alguém como eu, que cresceu sem TV a Cabo e sem locadora no bairro, a curadoria da Sessão da Tarde contribuiu para a minha formação cinéfila. Sem dúvidas, assistiria CODA repetidas vezes na minha infância e adolescência. 

No Ritmo do Coração, além de aquecer nossos corações,  nos ajuda a conhecer melhor a comunidade surda, mas não se engane, o filme não se limita a isso, é muito mais sobre uma família disfuncional que poderia ser a de qualquer pessoa. Por esta razão, confio na força que o cinema possui em ser esta plataforma que potencializa o verdadeiro sentido da comunicação: mostrar o quão diverso e multilateral  o mundo é, e, principalmente, diminuir as diferenças entre as pessoas.