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Os Miseráveis (2019) – Crítica do Filme

A violência é tema comum no cinema. Seja em filmes de ação, suspense, terror ou drama, ela está lá, sendo abordada de alguma forma. Os Miseráveis (Les Misérables, França, 2019) é mais uma produção que explora o assunto, mas o faz de tal maneira que não conseguimos parar de pensar nisso.

Enredo

Dirigido por Ladj Ly, o enredo se passa no subúrbio de Paris, na comuna de Montfermeil. É lá que a clássica obra de Victor Hugo foi, em parte, ambientada. No filme, acompanhamos o policial Ruiz (Damien Bonnard), que se junta a uma brigada policial e começa a trabalhar ao lado de Chris (Alexis Manenti) e Gwada (Djebril Zonga). O roteiro todo acompanha dois dias nas vidas desses personagens, suficientes para o novato perceber que entrou numa fria.

Por que uma fria? Bom, apesar de ser um longa francês, a realidade retratada não é novidade para alguém que vive em um país desigual e racista. Brasil que o diga! Todos os diálogos e cenas que vemos na tela parecem refletir notícias que vemos na TV, jornais e na internet. Chris é o homem branco que se autodenomina a lei e se vê no direito de fazer o que quiser por causa da função de liderança que tem. Ele abusa da autoridade que tem diariamente, até mesmo com inocentes, que têm o azar de ser negros numa sociedade altamente racista. Gwada é negro e de origem pobre, mas que, por medo de enfrentar o colega, passa pano para tudo que ele faz e só assiste aos abusos dele. Além de cometer os seus excessos, é claro.

Crítica social

Ruiz consegue decifrar o funcionamento da brigada em um dia de trabalho. Obviamente, não gosta de nada do que vê; assim como nós. É fácil entender que trata-se de um ciclo vicioso, cultivado por interesses que estão não apenas na corporação que representam, mas em autoridades muito mais superiores (sim, os políticos e demais líderes mundiais). Ly não diz, em nenhum momento, que a polícia está errada ao enfrentar criminosos. A crítica social em questão é mostrar como o sistema não contribui para resolver o problema grave da criminalidade e da violência.

Em outras palavras, a vontade das autoridades é de deixar o sistema do jeitinho que tá: manter a pobreza e a desigualdade, agredir os bandidos que são fruto disso – especialmente os negros -, esses bandidos agridem de volta e é uma guerra que não acaba mais. Alguns morrem, mas outros nascem, sofrem a violência na pele e acabam se tornando bandidos no futuro. Os meninos (destaco Issa Perica, brilhante no filme) ilustram bem essa lógica.

Quando chega a época de eleição, as pessoas que cultivam tal cenário prometem acabar com a violência e são eleitas com esse discurso. Afinal, o povo tem medo da violência. Quem não teria? Mas no fim, eles não querem acabar com a violência; eles querem manter o ciclo que lhes dá poder e que faz as pessoas gritarem: “bandido bom é bandido morto”. Mal sabem elas que os bandidos que elas querem mortos são resultado dos bandidos que elas elegem.