Crítica: Um Amor Inesperado

Mirtes Helena Scalioni

Difícil entender o raciocínio dos que traduzem títulos de cinema. “Um Amor Inesperado” é um bom nome para um filme que trata das dúvidas e consequente separação de um casal que vive, depois de 25 anos de união, a síndrome do ninho vazio. Mas, diante das muitas conversas e reflexões entre Ana (Mercedes Morán) e Marcos (Ricardo Darin) até se decidirem pelo divórcio, talvez fosse mais adequado ao longa a simples e literal tradução do castelhano: “El Amor Menos Pensado”. Afinal, o que fica no final é a pergunta: será que é preciso pensar tanto, raciocinar, dialogar, buscar?

Em Buenos Aires, Ana e Marcos – ele professor de Literatura e ela psicóloga que trabalha com grupos de pesquisa – parecem viver bem e normalmente como tantos e tantos casais, entre o trabalho e os muitos amigos, até a ida do filho Luciano (Andrés Giul) para a Espanha. Primeiro ela, depois ele, ambos começam a se questionar sobre o desafio de construir um novo cotidiano. Estabelece-se um mal-estar, são longas as conversas e muitas as perguntas que desaguam numa separação civilizada, moderna, madura. Ou seja: pensaram e falaram tanto de amor que optaram por ficar sem ele.

 

É com muita empatia e carisma que Mercedes Morán e Ricardo Darin envolvem o espectador nos muitos paradoxos do amor, nas boas conversas e dúvidas. Mérito, claro, de dois grandes atores que são o cerne do filme, fisgando o público com interpretações cheias de naturalidade, talento e charme. Mesmo algumas cenas que soam superficiais e repletas de caricaturas, como as dos primeiros encontros de ambos assim que ficam livres das amarras do casamento, mesmo essas, convencem e encantam. É como se todos torcessem para que eles encontrem algum caminho para fugir do medo da solidão.

“Um amor inesperado” é o filme de estreia do argentino Juan Vera, que também assina o roteiro. Os diálogos e as situações, embora bizarros em alguns momentos, são sempre instigantes, enriquecidos por outros atores experientes que todos já viram em alguma produção argentina como Cláudia Fontán, Andréa Pietra, Jean Pierre Noher e Juan Minujin, que interpretam alguns dos parceiros de Ana e Marcos na busca de ambos por novas paixões, vertigens, suspiros, prazer, emoções.

Classificado por alguns como comédia dramática, “Um Amor Inesperado”, faz rir e pensar. É muito calcado no humor, mas mesmo que seja chamado pelo desgastado nome de “comédia romântica”, pode ser considerado o primeiro filme inteligente do gênero. E, por que não dizer, cult. Afinal, não é todo dia que um filme argentino desse nível tem, na sua trilha uma canção do Wando. Acredite se quiser.
Duração: 2h16
Classificação: 14 anos

Trailer oficial legendado