O Cinema de Buteco adverte: A Crítica de Poderia me Perdoar? possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.
BASEADO NUMA HISTÓRIA REAL, Poderia me Perdoar? (Can You Ever Forgive Me?, 2018) é um daqueles casos em que a gente tem certeza do quanto o Oscar é injusto com suas indicações. Determinadas obras parecem não ter chances mesmo quando o prêmio decide destacar produções abaixo do nível de exigência digno da premiação, como é o caso do longa comandado por Marielle Heller.
Aliás, Heller confirma que é uma das cineastas mais interessantes da atualidade e vence o teste do segundo filme. O Diário de uma Adolescente já mostrava o potencial, mas é aqui que ela comprova seu talento para conduzir histórias sem nunca precisar alterar o seu ritmo. Sua simplicidade é mais que o suficiente para valorizar o que realmente importa num filme: contar uma boa história.
Estrelado por Melissa McCarthy, Poderia me Perdoar? é uma obra que lembra bastante Prenda-me Se For Capaz. Ambas apresentam detalhes da vida de estelionatários talentosos e que se aproveitam de outras pessoas sem remorso algum. Contudo, sentimos que a história da protagonista começa por uma necessidade real.
Como escritora de biografias de pessoas com problemas com a marvada, Lee (McCarthy) começa a passar por uma situação em que é evitada pela sua editora e não consegue desenvolver seu próximo trabalho. Ocorre então uma chance imperdível de tentar fazer dinheiro usando seu talento para imitar autores famosos, a ganância e o bizarro mundo dos colecionadores literários, que pagam fortunas por cartas e bilhetes desses escritores.
Imagine só que bosta: você é escritora publicada e ouve da própria editora que ninguém está interessado em ler sua obra, mas então você começa a fazer sucesso simplesmente por falsificar bilhetes e cartas de outros autores. É um daqueles reconhecimentos que não podemos realmente aproveitar. Parece uma sensação parecida como a dos pintores que são valorizados somente após sua morte.
Lee é uma pessoa incrivelmente amarga e infeliz, o que poderia ser um prato cheio para McCarthy fazer o que vem fazendo com sua carreira nos últimos anos. Felizmente, por incrível que pareça, ela demonstra uma maturidade inesperada e um timing de humor bem parecido com o que Jim Carrey apresentava nas produções dramáticas que estrelou nos anos 2000. O trabalho é tão bem feito que rendeu até uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz.
Poderia me Perdoar? é uma obra cheia de humor sobre pessoas solitárias que encaram a frustração de não conseguir encontrar o seu propósito e vivem caminhos dolorosos para se encontrarem realmente. Às vezes não do jeito certo, mas do jeito necessário para conseguir sentir ao menos um pouquinho de felicidade.