CONHECIDO COMO UM DIRETOR QUE USA UMA ESPÉCIE DE ESTÉTICA DA POBREZA, Brillante Mendoza usa esta característica como dado mas não como fim: seus personagens estão cercados pela miséria, pela possibilidade do caos (principalmente interno, psicológico) que ela pode acarretar, mas ainda sim conservam certa nobreza, que visa não só a sobrevivência, mas a vida. Tentando se descobrir em um contexto de busca pela dignidade o realismo com que são mostrados pelo diretor faz com que o espectador se veja em contato direto com as situações ali vividas. É isso que choca em seu cinema. Não é a pobreza mas, a forma com que os personagens transitam neste contexto depois que ele se mostra como realidade. Em Lola, a história de duas avós cujos netos estão envolvidos com a criminalidade é o eixo condutor para que o olhar de Mendoza aconteça.
A luta de Lola Sepa (Anita Linda) para enterrar o corpo do neto assassinado (o que lembra vagamente o argumento de Antígona) e o embate com Lola Puring (Rustica Carpio), cujo neto é o principal suspeito pelo crime é pano de fundo para que esta releitura do neo-realismo italiano (estão ali também as cenas externas, os atores não profissionais) calcado em ótimos e profundos diálogos e closes que mostram a dor dessas duas mulheres, tão inocentes quanto todos nós, pelos caminhos que conduzem os jovens ao mundo dos crimes.
Tanto em Massagista como aqui, a morte é um fio condutor que leva à descoberta, não dos personagens, mas do espectador sobre aquele universo, na maioria do tempo desconhecido. Conhece-se a pobreza, mas sabe-se realmente o que é viver nela? Mendoza tenta mostrar…. O que se tem, ou a quem se pode recorrer, é sempre o outro que compartilha da mesma realidade, que sabe o que passa com aquelas senhoras, que apesar das frágeis aparências, descobrem em si uma força surpreendente que as fazem pela dignidade daqueles que se ama e por justiça. É claro que a justiça passa por outros caminhos, desconhecidos para olhos ocidentais.
É diferente também este olhar que as Lolas (avós no idioma original) tem para com seus problemas, nunca simples de resolver, mas vistos com uma assustadora resignação, quase como fardo, pelo com o qual aquelas duas senhoras estão fatalmente destinadas a viver. Surpreendentemente elas se mostram com o decorrer da película mais humanas e menos dramáticas o que faz com que o filme nem chegue a flertar com o lugar comum.
Se Lola é um retrato fiel da realidade da capital filipense, é também reflexo daquilo que o diretor vê e não consegue deixar de filmar ficcionando. Não deixa de ser comovente perceber que, para Brillante Mendoza fazer cinema é também um ato de engajamento com seus iguais. Histórias reais de pessoas reais em relação com o lugar que vivem: um país que está sendo descortinado e mostrado para o mundo pelas lentes do já premiado diretor. Recomendo.
Lola (2009)
Direção: Brillante Mendoza
Roteiro: Linda Casimiro
Elenco: Anita Linda, Rustica Carpio, Tanya Gomez, Jhong Hilario, Ketchup Eusebio