127 Horas



Danny Boyle é um dos meus diretores favoritos. Dono de uma técnica veloz e desconcertante na hora de comandar a montagem e os cortes de seus filmes, Boyle sabe como poucos ser o porta-voz do espirito jovem no cinema atual. Os primeiros 15 minutos de 127 Horas mostram um pouco do talento do diretor em capturar sequências empolgantes no meio dos cânions e apresentar os personagens sem muita firula. A breve introdução logo dá lugar para o drama claustrofóbico do alpinista Aron Ralston e é exatamente isso que o espectador vai encarar pelos quase 80 minutos seguintes.

James Franco vive o personagem principal e se dá bem no desafio de passar um filme inteiro atuando com as rochas em que fica preso. Muitos atores já se aventuraram em produções baseadas quase que exclusivamente em monólogos, como por exemplo Tom Hanks em Náufrago, Sam Rockwell em Lunar e Ryan Reynolds em Enterrado Vivo. O que faz desse filme superior aos exemplos mencionados é simplesmente a direção de Danny Boyle. Ele faz toda a diferença e ainda consegue arrancar uma interpretação brilhante de James Franco, que continua firme na lista de melhores atores da atualidade.

O roteiro de 127 Horas é uma adaptação da auto-biografia que Aron Ralston escreveu após ficar preso por 127 horas depois de uma pedra enorme prender o seu braço. Em uma história digna de sobrevivência, Aron reflete sobre sua vida e sobre as consequências da decisão que precisa tomar caso queira sair daquele buraco com vida.

A introdução que é como um jogo de vídeo-game. Bem ágil, como tudo que Boyle costuma fazer, assistimos diversas cenas ao mesmo tempo e funciona bem para entrar no clima do filme. Parte desse clima só acontece pela música “Never Hear Surf Music Again” da banda Free Blood. Como é comum nos filmes de Danny Boyle, sempre existem boas músicas ilustrando as cenas. O destaque da vez fica com a linda “If I Rise” da cantora Dido. Já o melhor momento de 127 Horas acontece em meio aos delírios de Aron em conseguir escapar de sua “prisão” no meio de uma enchente. Delírio esse bem comum nos trabalhos de Danny Boyle, que tem uma pegada masoquista capaz de deixar todos seus personagens em terapia por anos.

Acaba sendo impossível conferir o último filme de Danny Boyle sem relembrar o já mencionado Náufrago ou até mesmo o lindo Na Natureza Selvagem. Cada um dos três personagens desses filmes tem uma personalidade completamente oposta e sua própria forma de ver e interagir com a natureza. Aron Ralston demonstrava ser uma pessoa solitária e extremamente individualista. A sua “independência” acabou colocando a sua vida em risco, pois ninguém sabia aonde ele estava. Ao decidir ser o senhor de seu próprio mundo, Ralston tomava decisões sem avisar ou consultar ninguém. Infelizmente a maioria das pessoas é com o personagem e somente depois de sofrer com experiências dolorosas, começa a aprender a valorizar de verdade a condição humana e aceitar que somos todos dependentes uns dos outros. 127 Horas acaba transmitindo essa mensagem e provavelmente, é um daqueles filmes que fica melhor com o passar dos anos.

Recomendo demais.