Por mais difícil que seja resistir à tentação, ando evitando assistir trailers e até mesmo ler sinopses de alguns filmes. Tudo isso para não gerar expectativa e me sentir decepcionado com o resultado final de um filme. É bem mais fácil ter as expectativas superadas quando não sabemos nada sobre a história (Kick Ass – Quebrando Tudo, por exemplo) do que quando sabemos praticamente todo o roteiro (Alice no País das Maravilhas, por exemplo).
Recentemente descobri a existência do longa O Desaparecimento de Alice Creed e fiquei entusiasmado. A sinopse apontava claramente que se tratava de um excelente exemplo de síndrome de Estocolmo e ainda por cima, tinha no elenco a gostosona da Gemma Arterton. Pois bem. Então eu sentei e assisti o filme. E agora aviso que não terei como evitar os spoilers, portanto não leia se não quiser saber o que acontece.
O Desaparecimento de Alice Creed conta a história de dois homens que sequestram a filha de um ricaço e que ficam aguardando até que o dinheiro do resgate seja entregue. Julgando por esse lado, até que podemos acreditar que existe a chance do roteiro usar um pouco dessa interessante premissa da vítima que se apaixona pelo seu algoz. Só que simplesmente não é compreensível entender de onde vem a tal da linha tênue entre desejo e repulsa, citada nas sinopses que rondam a internet. Para uma pessoa se apaixonar pelo sequestrador e ser considerado um caso de síndrome de Estocolmo, é melhor que ela não conheça a pessoa. Se for um velho conhecido, perde o sentido. Qual a graça de se apaixonar pelo seu sequestrador quando o mesmo era um namorado ou amante?
Os personagens do longa são bem complexos. Depois do sequestro mudo, o mais jovem dos sequestradores acaba ficando excitado com a vítima e tenta uma aproximação em determinada cena. Ele invade o quarto onde a refém esta algemada na cama e com uma mascara cobrindo o rosto, e insinua carinhos por todo o corpo dela. Quando todo mundo esperava um estupro à vista, acontece a primeira grande reviravolta da história e descobre-se que refém e sequestrador já se conheciam. Nem bem nos recuperamos do susto inicial e já levamos outro baque ao descobrir que os dois sequestradores são amantes. Danny (Martin Compston) é uma incógnita. Não se sabe exatamente o que ele queria e onde estavam as suas mentiras. Afinal ele queria viver com sua refém ou com seu amante?
Recheado de reviravoltas e com uma assinatura tradicionalmente britânica, a trama dirigida por J Blakeson (roteirista de Abismo do Medo 2) acaba sendo extremamente previsível. Não que isso seja algo ruim, já que o filme é cru e objetivo. A história já começa com os dois homens preparando os detalhes do sequestro ao invés de mostrar todo o planejamento de como fariam. O espectador só assiste, agoniado, o desespero da personagem de Arterton. Nesse ponto o diretor foi extremamente eficaz, pois criou um clima pesado em que mesmo o ato de respirar fica difícil de ser executado durante a sequência em que os sequestradores arrancam a roupa da vítima e a fotografam nua. O Desaparecimento de Alice Creed é cru e é por isso que agrada.