O Último Mestre do Ar

M. Night Shyamalan. Ou você ama ou você odeia. Já foram superadas as barreiras que permitiam a pessoa ficar em cima do muro. É incrível que a mesma pessoa que teve a genialidade de produzir um clássico moderno do suspense como O Sexto Sentido, conseguiu mostrar para o público outras produções mais fracas e até mesmo duvidosas, como o seu péssimo O Fim dos Tempos. Há quem diga que o sucesso subiu demais na cabeça do diretor indiano que esta apenas na faixa dos 40 anos de idade. As comparações com o mestre Alfred Hitchcock o fizeram se esquecer que não basta apenas assinar o nome antes do título do próprio filme: É preciso ser, de verdade, um grande mestre do suspense e daquela sensação de angústia em não saber o que esperar da cena seguinte. Shyamalan parece que perdeu a mão e depois de realizar Corpo Fechado e (o meu favorito) A Vila, nunca mais conseguiu oferecer alguma coisa que justificasse essa “fama” de ser o sucessor de Hitchcock.

O seu mais novo projeto não tem nada de suspense e poderia se encaixar como uma nova fábula, nos mesmos moldes de A Dama na Água (que gerou uma grande briga na época do lançamento e encerrou a parceria do diretor com os estúdios da Walt Disney). Porém trata-se da adaptação de um desenho animado conhecido como Avatar. Infelizmente, a produção teve que deixar de lado o nome original para não ter conflitos com o outro Avatar, aquele mesmo que gerou uma montanha de dinheiro na já amontoada conta de James Cameron. Sendo a primeira vez em que Shyamalan escreve o roteiro a partir de uma obra de um outro ator, era de se esperar mudanças e evoluções na forma com que conduz seus filmes. Seria um engano acreditar nisso, já que o filme fracassa em apresentar uma história coerente para um público maduro e que jamais tenha ouvido falar das aventuras de Aang, Katara, Zuko e Sokka (não sei quanto a vocês, mas na minha época os personagens tinham nomes mais simples. Tipo: “Principe Adam; Luke Skywalker; Lyon, Shitara; Gargamel; e depois começaram a aparecer os mais complicados como: Goku, Vegetta, Gohan, Seya, Shyriu, Mú de Aries, Pikachu e daí vai…). Todo mundo sabe que não é fácil adaptar uma história de livro, seriado ou mesmo desenho animado (alguém conseguiu assistir o fiasco da versão de Dragon Ball?) e o principal motivo é a falta de tempo em mostrar todos os detalhes. Em O Último Mestre do Ar, tudo é corrido e a evolução do personagem acontece sem o menor esforço ou dificuldade. E essa velocidade em transmitir as informações acaba transformando os personagens (que já não apresentavam o mínimo de carisma) em meros figurantes plastificados.

Apesar de ser fraco e focado, principalmente, no público infanto-juvenil, o diretor/roteirista/ator/megalomaníaco consegue mostrar que ainda resta um pouco de talento escondido nas mangas. Ponto positivo para a fotografia do filme e os efeitos especiais, que conseguiram modular de uma forma bastante interessante os efeitos da terra, água, fogo e ar. Talvez se não houvesse a necessidade de abusar de uma atmosfera mais “família”, o longa poderia ter caminhado por uma trilha mais ousada e abusado de sequências de lutas que realmente empolgassem, ao invés de apenas tentar ser um clone mal feito da beleza artística de O Tigre e o Dragão, que é uma referência forte ao longo da trama.

Destaque para a participação de Dev Patel (aquele mesmo que ficou milionário no filme do Danny Boyle) como o vilão estereotipado que busca apenas o reconhecimento e o amor do pai (para quem ainda não viu, em Kick-ass existe uma excelente paródia desses tipos nada raros). O ator até tenta mostrar serviço e convencer o público, mas o espectador só tem olhos para a cativante participação de Noah Ringer, como o carequinha tatuado que tem a missão de derrotar os vilões do Fogo e aceitar sua missão de ser um líder espiritual para todas as tribos restantes. Ou seja, no meio de toda a guerra entre os povos da Agua e do Fogo, o personagem ainda tem que lutar com seus próprios conflitos interiores e aceitar seu destino. Se um desavisado assistir a O Último Mestre do Ar sem saber que a história é baseada num desenho, ele não vai ter dúvidas de que assistiu à mais uma fábula desmiolada e sem sentido daquele que já foi considerado como uma das maiores promessas do cinema no final dos anos 90.

Três caipvodkas. Não vale gastar cachaça com esse aqui não…

ps: Os posts de A Vila e O Fim dos Tempos são até hoje um dos maiores sucessos em nível de discussão nos comentários. O diretor consegue conquistar o público e dividí-los entre aqueles que o amam e os que odeiam. Vale a pena ler e se divertir com os comentários, nada amigáveis, diga-se de passagem.