Antes de tudo, é preciso entender que a trilogia das Crianças Peculiares se encaixa na categoria infanto-juvenil. Se você é um leitor desavisado, se impressionou com a imagem de capa e espera por um grande livro de terror, desculpe, mas não é isso que você irá encontrar. Neste livro, você encontrará uma história sobre superação, amadurecimento, diferenças e preconceito. Acredito ainda, que, o universo criado por Ranson Riggs é um dos melhores criados desde Harry Potter e terá uma grande importância na construção dos novos leitores.
No final de janeiro, eu publiquei a resenha do primeiro volume da série O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares, de Ransom Riggs. A série, que mescla fotografias antigas e fantasia, conta a história de Jacob Portman, um adolescente que cresceu ouvindo histórias fantasiosas do seu avô sobre a sua infância em uma ilha na costa do País de Gales. O tempo passou e o neto deixou de acreditar nas ‘bobagens’ que o velho contava, até que um dia Jacob recebe uma ligação de seu avô perguntando sobre a chave de seu armário de armas.
Percebendo o desespero na voz do avô, Jacob resolve ir até ele, mas acaba encontrando apenas seu corpo estirado no chão com sinais de terríveis cortes. Antes de morrer, seu avô passou-lhe algumas instruções – aparentemente sem sentido – sendo uma delas: encontre a Ave. Para piorar a situação, Jacob tem a sensação de ter visto um monstro, com tentáculos no lugar da boca. Ao tentar contar para os familiares o que presenciou, acaba sendo taxado de louco e acham que se deve ao fato do mesmo ter passado por uma situação traumática.
Se você não leu o primeiro volume da série, leia nossa resenha clicando aqui.
Por se tratar de uma continuação, esta resenha pode conter spoilers do primeiro volume.
“Também me despedi, em silêncio, de um lugar que me transformara para sempre, de um lugar que, mais que qualquer cemitério, guardaria para sempre a memória e o mistério de meu avô”.
Depois de muito tempo órfãos, a Intrínseca deu continuidade com a série O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares, se tornando a responsável pelos direitos autorais da trilogia. No segundo volume, ‘Cidade dos Etéreos’, a editora os presenteia com um trabalho gráfico tão digna quanto o primeiro volume merecia. A jacket, capa dura e o livro colorido dão muito mais significado a história apresentada. Nesta continuação, Ransom Riggs mantém o clima sombrio e misterioso, assim como fez no primeiro volume. Agora, ainda mais pesado e com uma cidade devastada pela guerra, Jacob e os peculiares precisam se proteger e encontrar uma cura para a Srta. Peregrine.
“Eu estava ali por um motivo. Havia algo que eu precisava fazer, não apenas ser; e não era fugir ou me esconder, muito menos desistir no instante em que as coisas começassem a aparecer aterrorizantes ou impossíveis”.
No final do primeiro volume, os peculiares vão até a baía e partem em direção ao País de Gales. Durante a travessia, o barco em que eles estavam acaba virando e eles perdem tudo, exceto um baú com os contos peculiares. Ao chegarem à Costa, são surpreendidos por vários acólitos que desejam captura-los e fogem para uma floresta (a mesma descrita nos contos) e descobrem que lá pode haver uma fenda temporal. Ao entrarem na fenda, somos apresentados a novos personagens, dessa vez, animais peculiares, como Addison e Deirdre.
Em Cidade dos Etéreos, Jacob e Emma precisam ir urgentemente para Londres, caso contrário, não conseguirão salvar a Srta. Peregrine, que pode perder sua ‘humanidade’ para sempre. Com uma Londres afetada pela Segunda Guerra Mundial, acólitos e etéreos sempre aterrorizando suas vidas, conseguir salvar a Srta. Peregrine em menos de três dias passa a ser uma tarefa muito mais difícil do que eles imaginavam.
“(…) eu optara por mergulhar em um mundo que jamais imaginara, onde vivia entre as pessoas mais vivas que eu já tinha conhecido, onde fazia coisas que nunca tinha imaginado ser capaz de fazer e sobrevivia a coisas às quais nunca tinha sonhado sobreviver.”
Nesta continuação, Riggs mostra o amadurecimento do protagonista, apontando suas preocupações e incertezas e dá mais espaço para conhecermos os personagens secundários, nos fazendo entender um pouco sobre as angustias e aflições de ser um peculiar. A narrativa continua boa e mais sombria que o primeiro. Por mais sobrenatural que seja, Cidade dos Etéreos aborda temas importantes como lealdade, coragem e escolhas.
Após muitas reviravoltas, temos um final intenso. Muitas decisões são colocadas em jogo e descobrimos o motivo que provocou esse conflito entre os acólitos, etéreos e peculiares. As revelações acabam mexendo com o leitor e nos deixa ainda mais ansioso para o desfecho dessa história. Nossa sorte, é que o último volume da série chegará 19 de agosto nas livrarias!
5 motivos pelos quais Cidade dos Etéreos supera nossas expectativas e consegue ser melhor que seu antecessor:
- Ao comparar o primeiro livro com o segundo, percebemos um nítido amadurecimento na escrita do autor.
- Riggs conseguiu uma das tarefas mais difíceis: expandir o universo peculiar além do lar em que as crianças moravam. No decorrer da leitura, passamos a conhecer mais da ‘mitologia’ criada pelo autor, tais como o conceito das fendas temporais. Expandir um universo não é uma tarefa fácil, mas Riggs conseguiu com maestria.
- Além do universo expandido, Riggs também nos faz conhecer os personagens de forma muito mais aprofundada. Por exemplo: você já parou para pensar que Olive, Hugh e Emma são, de certa forma, adultos presos em corpos de crianças? Na ausência da Srta. Peregrine, Emma assume o comando do grupo, e muitos personagens passam a ganhar mais importância.
- Riggs foge da maldição do segundo livro e consegue fazer uma sequência muito melhor que o primeiro volume. Cidade dos Etéreos adota um tom mais sombrio, uma aura negra pesada ao limite do que poderíamos encontrar em livros juvenis. O ritmo é mais rápido que seu antecessor em termos de enredo, criando uma leitura rápida e impossível de largar até saber o desfecho.
- Criar uma história infanto-juvenil ambientada durante a Segunda Guerra poderia ser um fiasco nas mãos de alguém sem habilidade para desenvolver uma ideia tão rica, mas o autor usou ao seu favor e criou um uma obra bem contextualizada com cenários de guerra dignas para sua história.
O terceiro volume da série:
O terceiro e último volume da série chegará às livrarias a partir de 19 de agosto e, assim como Cidade dos etéreos, terá capa dura, sobrecapa e páginas coloridas.
Confira a sinopse:
Biblioteca de Almas é o último volume da celebrada trilogia iniciada com O lar da srta. Peregrine para crianças peculiares. Neste terceiro livro, depois de sofrer com a morte do avô, conhecer crianças com habilidades peculiares em uma fenda temporal e partir pelo mar em uma busca desesperada para curar a srta. Peregrine, Jacob vai finalmente enfrentar a inevitável conclusão dessa turbulenta jornada.
Jacob descobre uma poderosa habilidade e não demora a explorá-la para resgatar os amigos peculiares e as ymbrynes da fortaleza dos acólitos. Junto com ele vai Emma Bloom, uma menina capaz de produzir fogo com as mãos, e Addison MacHenry, um cão com faro especial para encontrar crianças perdidas.
Partindo da Londres dos dias atuais, o grupo vai percorrer as ruelas labirínticas do chamado Recanto do Demônio, uma complexa fenda temporal que abriga todo tipo de vícios e perversões. É ali que o destino de peculiares de toda parte será decidido de uma vez por todas. Tal como os volumes anteriores da série, Biblioteca de Almas une fantasia, aventura e sombrias fotografias de época para criar uma experiência de leitura única.
Em setembro, a Intrínseca publica também Contos peculiares, coleção inédita de contos de fadas relacionados à série.
O filme:
Produzido pela Fox Films e dirigido por Tim Burton, O Lar das Crianças Peculiares tem estreia prevista para 29 de setembro no Brasil e conta com Eva Green, Samuel L. Jackson e Asa Butterfield no elenco. Confira o trailer e os cartazes do filme: