O diretor Miguel Sapochnik, responsável por comandar um dos episódios mais grandiosos de Game of Thrones, já tinha muita experiência em trabalhar o arco de histórias de Jon Snow. Afinal, “Hardhome”, episódio 8 da temporada passada (e o melhor do quinto ano) mostrava uma batalha grandiosa entre os Corvos, Selvagens e os zumbis congelados do Rei da Noite. No aguardado “Battle of Bastards”, Sapochnik confirma a sua qualidade, ainda que toda a expectativa não tenha sido superada.
Não me entendam mal. “Battle of Bastards” é um dos momentos mais tensos e angustiantes de toda a série. Será um episódio lembrado e comentado durante muito tempo, mas quando a gente pega para comparar com o próprio “Hardhome” ou com os geniais “Blackwater” (s02e09) e meu favorito “The Watchers on the Wall” (s0409), ambos comandados pelo competente Neil Marshall (Abismo do Medo), parece que fica algo faltando.
“Battle of Bastards” certamente teve mais suspense e tensão que os três episódios citados. Por tudo que significava a batalha entre Jon Snow e Ramsay Bolton, o clima precisava mesmo ser pesado. Tão sufocante quanto os momentos em que Jon é soterrado por corpos no campo de batalha e deixa os telespectadores na linha tênue do medo de uma nova morte e da certeza de que ele é o escolhido da profecia. O filtro mais escuro da fotografia cooperou bastante para criar essa atmosfera suja e fria que torna “Battle of Bastards” especial. Detalhe também para a ausência de trilha sonora em cenas chave, como o encontro entre os dois bastardos. Nós sentimos o peso de tudo que está em jogo e entramos no jogo com os personagens. Uma jogada brilhante de Sapochnik, que também será o diretor do episódio 10, “The Winds of Winter”.
Fica parecendo que eu não gostei, mas é muito pelo contrário. Minha “frustração” é pela surpreendente abordagem que evoca Cruzada, de Ridley Scott, ao priorizar as estratégias de combate de cada exército ao invés de altas doses de ação, como acontece em “Hardhome”. Em alguns momentos, pelo excesso de coisas acontecendo ao mesmo tempo, ficamos confusos com o rumo das coisas, mas nada que comprometa o belo trabalho de direção do episódio.
A ação já começa com Khaleesi num papo bem tenso com Tyrion, que se assusta com a proposta inicial de sua rainha e conta porque Jaime matou o pai da loira. Engraçado como a série brinca de dar pistas de que determinadas teorias estão realmente corretas. Nessa sequência acompanhamos duas: a primeira é que Khaleesi herdará um desejo incontrolável de conquistar. Ela não quer governar de verdade, e sim destruir tudo e todos que ficarem em seu caminho; Já a segunda é MAIS UMA VEZ uma citação explícita de que o pau vai comer em Kings Landing e Cersei Lannister está prestes a cumprir aquela velha profecia que tanto a atormentou em sua vida. Por essas e outras, acredito que a frieza de “Battle of Bastards” será sucedida de um episódio de pegar fogo. Sem trocadilhos.
Ainda no arco de Meereen, finalmente tivemos o encontro dos irmãos Greyjoy com Khaleesi. Impagável a expressão de satisfação da loira quando recebe uma cantada de Yara e descobre que uma mulher está lutando para assumir o comando de sua casa. Uma aliança está formada e a previsão é de que a “quebradora de correntes” chegue em Kings Landing (ou no que sobrar…) em breve para proclamar seus duzentos nomes antes de resumir todo o discurso com “quem manda nessa porra sou eu”.
Com uma excelente direção e um trabalho lindo de fotografia, “Battle of Bastards” concluiu o arco de história do maior vilão da série com uma cena digna de suas torturas. Para quem gosta de fortes emoções, acompanhar o pobre Rickon sugando seus últimos momentos de vida foi um prato cheio, assim como a cena em que os cavalos quase atravessam Jon Snow ou quando a tropa liderada pelo Mindinho surge para salvar a pátria – lembrando muito O Senhor dos Anéis, diga-se de passagem. Uma pena que justamente pelo alto nível de tensão e frieza, o episódio tenha ficado um pouco abaixo daquilo que eu esperava. E isso é um palpite extremamente pessoal, de quem é capaz de reconhecer a qualidade inquestionável do trabalho realizado pela equipe da série nesse episódio.
Difícil imaginar, mas talvez esse seja um daqueles episódios, que assim como muitos filmes, melhoram durante a revisão. Descobrirei em breve.
ps: Estaria Stanis Baratheon vivo?