Histórias de Cinema #9 – Especial Dia dos Namorados

APROVEITANDO NOSSA SEMANA DEDICADA AO DIA DOS NAMORADOS, a edição desta semana da coluna Histórias de Cinema acabou sobrando para mim.

Ainda que eu não tenha nenhuma lembrança especial na data em si, independente de ser relacionado com cinema ou não, me lembrei de algo que aconteceu justamente por causa do dia 12 de junho. Aliás, verdade seja dita, eu nunca comemorei dia dos namorados acompanhado, não me lembro de ter salivado com alguém no dia do beijo e certamente acho que não dormi acompanhado no seis de setembro. Também conhecido como o dia do sexo. Três datas malditas em que eu dou muita alegria para o dono do bar aqui da minha rua.

Fui gravar uma participação num programa de televisão para comentar relacionamentos à distância. Sou PhD nesse assunto, o que acaba prejudicando relações normais com pessoas que moram na mesma cidade que eu. Pessoas de outras cidades estão mais dispostas a conversarem virtualmente e falarem de si, ao contrário do que acontece quando você lida com quem mora há apenas 5km de sua casa. Falar demais pela internet te transforma em um tagarela com traços de gente tarada. Fica a dica.

Enquanto aguardava para entrar no estúdio, fiquei numa sala observando o comportamento de um grupo de adolescentes com uma dupla de sertanejo universitária que estava lá. Essas garotas eram a definição de calcinhas pegando fogo. Achei engraçado e comecei a trocar mensagens com um amigo compartilhando a cena e a minha sensação de que tinha me enfiado numa fria. Até que vi essa garota que trabalhava na produção do programa. Meu celular perdeu a graça na mesma hora. Ela estava usando uma camisa de frio com listras pretas e brancas, um jeans bem justo e um tênis qualquer. Ela chegou bem perto de mim para confirmar meus dados e sequer fez muito contato visual. Me derreti naquele momento. Talvez pelos óculos. Talvez pelos olhos. Pela pele. Pelo cabelo. Pela timidez. Talvez por tudo.

Infelizmente ela não ficou lá por muito tempo e logo sumiu dentro de alguma sala. Gravei o programa e enrolei um pouco para sair na esperança de ter uma única chance. Como diz Matt Damon em Compramos Um Zoológico, de Cameron Crowe, nós só precisamos de uma chance para fazer algo valer a pena. Não tive sorte, mas também não iria desistir facilmente.

Assim que cheguei em casa fiz valer toda a minha expertise em redes sociais. Ou meu talento nato para ser stalker virtual.

O primeiro passo foi lembrar o nome dela. O passo seguinte envolveu conversar com a produtora do programa, que é uma amiga dos tempos de escola, e “levantar a ficha” da garota. Nisso, eu já tinha encontrado todos os perfis ativos (ou não) que ela mantinha na internet. Fiz meu checklist de um item: “solteira” e fiz uma solicitação de amizade no Facebook. Conversamos durante alguns dias e graças à maravilhosa Copa do Mundo, não demorou muito para o primeiro encontro acontecer.

Os dias que passamos conversando antes de marcarmos de encontrar foram muito importantes para existir uma vontade em comum de se encontrar. Estava me sentindo um cara de sorte. Afinal, eu estava cortejando uma sósia da Rachel Bilson com sucesso. Sentia como se nada pudesse dar errado e todos os problemas que eu estava passando por causa do fim de uma relação tóxica deixaram de importar.

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Marcamos de encontrar num restaurante para almoçarmos juntos. Eu estava esperando tranquilamente e trocando mensagens com ela. Me diverti muito quando percebi que um sujeito trocou de lugar para uma mesa em que um casal havia acabado de se levantar para ir embora. Ainda tinha macarrão nos pratos e esse cara começou a comer tudo na maior cara de pau. Definição de limpa trilho.

Deixei o restaurante para encontrá-la num ponto de ônibus (ela se distraiu e desceu no lugar errado) e me surpreendi quando a vi de longe. Ela havia mentido ao dizer que estava de jeans: usava um vestido azul com uma estampa amarelada. Aquilo me deixou arrepiado porque durante as nossas conversas todas me comportei como um garoto de família. Ou seja, diminui para 50% o meu repertório de putaria – e isso ainda era muita coisa, mas não o suficiente para traumatizar alguém ao ponto de acabar sendo bloqueado ou ignorado para sempre.

Primeiros encontros costumam ser tensos. Você não consegue prever o beijo. Você não sabe se vai ser natural ou se vai ficar para o final. Antes que eu pudesse pensar nisso, ela já estava com a mão no meu cabelo e me beijando. Aquele papo de que as quietinhas são as “piores” é bem verdade. Ela simplesmente quebrou o gelo da maneira mais deliciosa possível. Nos divertimos almoçando, ficando bêbados com caipirinhas e um jogo ruim da CBF, até que encerramos o passeio com uma sessão do filme Amor Sem Fim, de Shana Fest. Filme foi escolhido porque era a sessão mais vazia, eu ainda não havia assistido e porque as outras opções não a deixaram muito entusiasmada – não que a gente estivesse pensando demais no que seria visto, afinal a intenção era se beijar loucamente sem ninguém ficar olhando. E assim tive a minha primeira experiência 100% auditiva nos cinemas.

O lance sobre ela não era apenas físico. O fato dela ser a mulher mais linda que eu já me envolvi certamente teve o seu peso de importância, mas existia algo que estava além do racional. E mesmo dessa parte de pele. Senti logo que a vi no dia do programa. Era uma pessoa diferente na minha frente. Alguém que valeria a pena investir. Ficamos juntos por dois anos e nunca fui capaz de entender a lógica desta relação, que terminou justamente por falta de afinidades e interesses em comum.

Mas é o melhor que tenho a dizer sobre o dia dos namorados e sobre uma pessoa especial que tive a sorte de chamar de namorada durante esse breve período da vida.

Edições antigas

#1- Batman – O Retorno, por Tullio Dias
#2- Batman Eternamente, por Lucas Paio
#3- A Época da Inocência, por Juliana Uemoto
#4- Menina de Ouro, por Juliana Uemoto
#5- 9 1/2 Semanas de Amor, por Juliana Uemoto
#6- Heliezer Soares e seus filmes, por Heliezer Soares
#7- X-Men 2, por Tullio Dias
#8- O Rei Leão, por Natália Ranhel