O mais emocionante e tocante concorrente ao Oscar de Melhor Filme desse ano, O Quarto de Jack se destaca como uma bela e sincera história de sobrevivência, cumplicidade e amor maternal.
Baseado no best-seller de Emma Donoghue (que também adaptou o roteiro), o filme nos apresenta a história de Joy Newsome (Brie Larson), uma jovem que é sequestrada e mantida em cativeiro durante 7 anos em um quarto. Sendo constantemente abusada sexualmente por seu sequestrador, Joy acaba grávida e dá à luz a Jack (Jacob Tremblay) em cativeiro, e o menino passa os 5 primeiros anos de sua vida no quarto, e quando os dois finalmente conseguem fugir, Joy tem a difícil tarefa de apresentar o mundo real para Jack.
Apesar de aparentemente simples, O Quarto de Jack é daqueles filmes em que todos os seus elementos contribuem para que a obra tenha uma força incomum que o torna mais poderoso e cativante do que o esperado. Lenny Abrahamson consegue trazer dinamismo e emoção a todo o primeiro ato que se passa inteiramente no Quarto, o que a princípio parece arriscado quando paramos para pensar em filmes em que a dinâmica muda completamente a partir do segundo ato, como é o caso de Wall-E, cujo primeiro ato que é basicamente mudo é simplesmente genial, mas ao chegar no segundo ato começa a se perder (o que não prejudica o filme como um todo mas não deixa de ser um problema), mas esse não foi o caso em O Quarto de Jack e Abrahamson consegue te deixar só mais concentrado e tocado conforme o filme decorre, com cenas que simplesmente te pegam de jeito, como quando Jack consegue fugir do Quarto e vê o mundo real pela primeira vez, forte e impactante e ao mesmo tempo sensível e comovente.
Mas o talento de Abrahamson para dirigir não teria resultado em um filme tão bom se não estivesse aliado ao talento da dupla de protagonistas. Brie Larson e Jacob Tremblay são o filme, basicamente. A força de suas atuações e sua química instantânea em cena sustentam as quase 2 horas de duração tão brilhantemente que essas quase 2 horas passam num estalo. E os dois estão igualmente impressionantes. Apesar do carisma surreal de Tremblay roubar a cena muitas vezes, Larson não fica à sombra de seu coleguinha de cena e entrega uma performance poderosa e sincera, e a enxurrada de prêmios que ela tem ganhado pelo filme (o Oscar inclusive já está garantido) só comprovam o talento da moça.
Também não podemos esquecer de outros detalhes que engrandecem o filme, como a belíssima trilha sonora de Stephen Rennicks (parceiro de longa data de Abrahamson) que infelizmente não foi indicada ao Oscar, e o roteiro adaptado pela autora do romance que originou o filme Emma Donoghue, que acerta com maestria ao manter a dinâmica do livro em que acompanhamos a história pelo ponto de vista de Jack, o que só comprova que essa nova tendência de usar os autores das obras originais para adaptá-las para a tela grande dá muito certo, como foi o caso de Gillian Flynn com Garota Exemplar e J.K. Rowling com o já garantido sucesso Animais Fantásticos e Onde Habitam (oremos para que a moda pegue).
O Quarto de Jack consegue genuinamente emocionar e impressionar o espectador, e apesar de provavelmente não faturar nenhum prêmio importante no Oscar (com exceção do de Melhor Atriz para Brie Larson), o filme é memorável por si só, nos apresentando uma das mais belas histórias de mãe e filho vistas recentemente.