Não Morra Antes de Assistir: Lavoura Arcaica

De Luiz Fernando Carvalho. Com Selton Melo, Leonardo Medeiros, Simone Spoladore, Raul Cortez, Denise Del Vechio, Juliana Carneiro da Cunha.

Já tentei escrever várias vezes sobre esse filme, que entre os nacionais que já vi é com certeza o melhor. Lavoura Arcaica (ou LavourArcaica, como no sugestivo título) não é um filme fácil, e requer certa paciência (nunca consegui vê-lo em uma seção apenas), mas é um filme pra ser visto e revisto algumas vezes. Porque Lavoura Arcaica não é cinema simplesmente, mas sim literatura filmada. Isso não é característico de qualquer filme adaptado de uma obra literária (no caso a obra homônima de Raduan Nassar), mas se o é neste caso é graças ao já consagrado diretor Luiz Fernando Carvalho (das minisséries televisivas Os Maias, Hoje é Dia de Maria e o recente sucesso Capitu), aqui em seu primeiro trabalho no cinema.

Se o texto é de uma complexidade sem tamanho o que se percebe mesmo ser ler o livro pela evidente fidelidade da adaptação, também é complexo o modo de mostrar a história de André (Selton Melo), filho “mudo e estranho no mundo” que decide ir embora de casa quando percebe que os valores pregados pelo seu pai (um imponente Raul Cortez) para quem o mundo dos desejos e das paixões é o desequilíbrio, não lhes dizem respeito e muito menos aos outros integrantes desta tradicional família libanesa.

A intenção do diretor parece ser remeter cada tomada à beleza do texto e o resultado muitas vezes é de tirar o fôlego. As soluções encontradas por ele nunca são as mais fáceis. A filha que brinca de dançar em meio e uma festividade na fazenda; a mãe que sente a dor da perda de seu filho mais querido; o garoto que se esconde no campo em meio às folhas e aos chamados das irmãs; a fala do narrador na cena do prostíbulo quando a fumaça do cigarro se movimenta de acordo com sua respiração; e a cena inicial que funde a chegada do irmão mais velho (Leonardo Medeiros) com momentos íntimos de André: tudo é muito delicado, bem pensado e muito bem interpretado pelo elenco espetacular (Simone Spoladore como Ana é a perfeita mistura de belo e trágico, ideal para o filme)…

Desta vez percebi que é inútil falar muito sobre o filme, porque as sensações causadas por ele são subjetivas demais. Assista (de preferência com legendas, é mais legal!), e tire suas próprias conclusões. Não é um filme que quer passar mensagens (embora a eterna luta entre o arcaico e o novo seja o mote da história), mas que dá uma lição de como se apropriar do cinema e daquilo que ele tem a oferecer de uma forma original e inédita, para um filme feito só em 2001. Vale a pena conferir também o DVD com os extras, onde acompanhamos entre outras coisas a preparação do elenco.

Assistam correndo! Espetáculo. E tenho dito.