The Science of Sleep

de Michel Gondry. Com Gael Garcia Bernal, Charlotte Gainsbourg, Alain Chabat, Miou-Miou


Stephano (Gael Garcia Bernal) apresenta um programa diário chamado “Stephane TV”. Lá além de outras coisas, assistimos a uma receita de Sonho. Não o doce. Mas aquele que geralmente serve de “descanso de tela” enquanto dormimos. Apesar de parecer simples, um Sonho como nos diz nosso protagonista, “é a combinação de ingredientes complexos: primeiro inserimos os pensamentos. Logo, acrescentamos um pouco de reminiscências do dia misturadas a algumas lembranças do passado. De duas pessoas. Amor, amizades, relações, e coisas do tipo, com canções ouvidas durante o dia e coisas vistas. E também com um toque pessoal”. Pronto! Temos um sonho saindo. Tudo isso com um detalhe: o Stephane TV se passa dentro de sua cabeça, aberta apenas para os olhos do espectador. Acompanhando este programa, percebemos o que Stephano pensa sobre o mundo, sobre si mesmo e sobre as pessoas ao redor.

Esta é a forma mais simples encontrada por Michel Gondry para representar o mundo dos sonhos e dos pensamentos em seu filme The Science of Sleep. Assim como em seu primeiro trabalho o também belo Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, acompanhamos a saga de um homem, imaturo em relação aos seus sentimentos, enquanto tenta manipular sua realidade motivado por uma paixão. Se no filme de 2004 tínhamos Joel e sua vontade de apagar sua little darling Clementine da memória, temos aqui, um artista que brinca de inventor e volta e meia tenta manipular seus pensamentos para trazer sua amada Stephanie (Charlotte Gainsbourg) pra dentro de seus sonhos.

As duas histórias têm em comum a inventividade de Gondry em pensar numa história tão original (tanto que ganhou o Oscar pelo roteiro de seu primeiro filme) e principalmente em executá-la. EmThe Science of Sleep lembra os clipes da Bjork dirigidos por ele. Quando estamos no mundo dos sonhos, vemos que tudo é feito artesanalmente, e Gondry não exita em mostrar o quão toscos são os materiais usados. Esta é a intenção, cuja finalidade é mostrar a forma como os sonhos e pensamentos podem ser facilmente manipulados, pelo menos por Stephano, que desde os 6 anos de idade confunde sonhos com realidade. E isto constantemente lhe coloca em situações nada confortáveis.

É um convite para que entremos nesse universo onde tudo é possível, e isto graças a atuação de Gael Garcia Bernal: aqui ele faz um personagem bem diferente do que costumamos ver em seus filmes. Seu Stephano é um sujeito sensível, e que se apaixona rapidamente por sua vizinha e não vê outra alternativa para conquistá-la senão trazendo-a para seu universo particular. Sua doçura, embora beire a infantilidade faz todo sentido pois nada do que se passa em seu “programa” é diferente do que fazemos no nosso subconsciente: como na cena em que ele imagina a reação da sua amada quando esta vir a surpresa por ele preparada (que não poderia ser outra senão dar vida a algo inanimado, como num sonho). Só o que Gondry faz é mostrar isso de uma forma mais lúdica, divertida.

Talvez seja a palavra certa para descrever mais esta viagem de Godry: é uma estranha combinação de bizarrices e diversão, já que é um filme leve a todo momento e que conta um bonito romance que esbarra no medo de externar sentimentos que todos temos, embora no nosso “mundo interior” (afinal isso não é apenas privilégio de Stephano) sempre façamos projetos de vida, nem sempre concretizados da forma como imaginávamos.

Procure o filme e assista, vale muito a pena. E aguardem porque em breve tem post sobre Rebobine por favor, o mais recente trabalho do diretor!