Felipe Borba faz sua estreia oficial no Cinema de Buteco comparando o livro com o filme na volta da coluna Buteco Literário:
Quem leu Perdido em Marte (The Martian) com certeza deve ter passado por alguns momentos de agonia ao acompanhar a missão do astronauta Mark Watney ao planeta vermelho. E não é pra menos. Após uma tempestade de areia, Mark sofre um acidente e a Missão Ares 3 acaba sendo abortada e a tripulação vai embora acreditando que o astronauta não sobreviveu. Ao acordar, Watney se dá conta da situação: ele está sozinho, ferido e sem comunicação alguma com o Planeta Terra. É nesse momento que o livro começa a ficar bom (pelo menos para nós leitores).
“Então, esta é a situação: estou perdido em Marte. Não tenho como me comunicar com a Hermes nem com a Terra. Todos acham que estou morto. Estou em um Hab projetado para durar 31 dias. (…) Então, é isso mesmo. Estou ferrado.“
Na medida em que o filme parece uma grande propaganda da NASA, o livro por sua vez nos impressiona com a quantidade de riqueza e detalhes que o escritor, cuidadosamente incluiu ao longo da trama (alguns momentos exaustivamente específicos para quem só entende o básico). Entretanto, não é possível dizer o mesmo em relação ao restante da obra. Perdido em Marte conta com três núcleos (o de Mark Watney, o da NASA e o da Hermes), começa sendo narrado em primeira pessoa e em certos momentos em terceira pessoa diretamente com o protagonista, o que gerou certos embaraços durante a narrativa.
Além de ignorar que o solo de Marte é cheio de percloratos (que não são saudáveis de se respirar), outro problema da obra de Weir é que a alimentação do astronauta botânico não faz sentido. Em um fórum, uma leitora explica que o autor cometeu o erro de dizer que o astronauta tinha um estoque gigante de proteínas, suficiente para ele não precisar se preocupar em comer carne pelos próximos quatro anos. Sem as batatas, ele não obteria glicose. O que não faz sentido, pois o nosso organismo consegue converter os aminoácidos das proteínas em glicose. Mark jamais morreria de fome se não comesse as batatas (que é a causadora de grandes acidentes).
Para quem não sabe, antes de se tornar best-seller, Perdido em Marte havia sido publicado no blog do autor primeiramente como um conto. Após tamanha repercussão, Andy Weir realizou adaptações (e pode ter sido aí que alguns problemas de narrativa surgiram) e colocou a versão integral de forma independente na Amazon como e-book por apenas US$0,99. Após três meses, a obra vendeu mais de 35 mil cópias e na mesma semana, os direitos de adaptação da obra para o cinema foram comprados pelos estúdios Fox.
Um dos pontos interessantes é que acompanhamos o dia a dia do astronauta por meio de seus diários de bordo. Enquanto no livro Mark escreve os diários acreditando que alguém irá lê-lo, a adaptação cinematografia optou por uma espécie de vlog, acertando em cheio a interação com o público e aumentando o carisma do protagonista. Outro fator interessante na obra é que ela tem tudo para ser um grande drama sem final feliz, porém o autor preferiu apostar no tom cômico para sobreviver em meio a tanto desastre.
“Se um excursionista se perde nas montanhas, as pessoas organizam uma busca. Se um trem colide, as pessoas fazem fila para doar sangue. Se um terremoto arrasa uma cidade, as pessoas em todo o mundo mandam suprimentos de emergência. Isso é tão fundamentalmente humano que é encontrado em todas as culturas, sem exceção.”
Para um primeiro romance, Andy Weir conseguiu criar um livro dinâmico, simples, bastante divertido e ainda conseguiu faturar milhões. É inevitável dizer que a adaptação cinematográfica dirigida por Ridley Scott e protagonizada por Matt Damon se saiu muito melhor que o livro (que tem uma premissa muito boa, porém mal executada).
Ficha Técnica
Título: Perdido em Marte
Autor: Andy Weir
Editora: Arqueiro
Gênero: Ficção Cientifica
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