O cinema de Guillermo Del Toro é incrível. O toque artístico que ele dá aos seus filmes é único, seja nos figurinos, cenários ou roteiro. Em A Colina Escarlate (Crimson Peak, 2015), ele nos leva a um mundo sombrio, romântico e levemente aterrorizante, para contar a história trágica de uma jovem americana que vai viver com o marido na Inglaterra.
Admito que a promoção do longa não foi muito bem feita, pois a trama é bem mais simples do que o trailer sugere: Edith (Mia Wasikoska) vive com o rico pai nos EUA e recebe dois avisos da mãe morta antes de conhecer os misteriosos irmãos Thomas (Tom Hiddleston) e Lucille (Jessica Chastain). Os avisos faziam referência a Crimson Peak, lugar onde ela jamais deveria ir. É claro que, eventualmente, Edith vai parar exatamente lá, em função de seu amor por Thomas e inocência. No entanto, a curiosidade da protagonista acaba ajudando-a a desvendar o horror daquele lugar tenebroso e o segredo dos irmãos.
Terror? Bom, A Colina Escarlate tem suas mortes e cenas arrepiantes, mas não diria que é, propriamente, um filme do gênero; isso é apenas uma parte dele. O roteiro de del Toro e Matthew Robbins explora também o amor e a loucura, como são os casos de Thomas e Edith e Thomas e Lucille, respectivamente. É claro que o tom sombrio está presente desde a primeira cena, na qual vemos Edith toda ensanguentada, só que este não é um filme que nos deixa assustados ou roendo as unhas de nervoso. O enredo aprofunda bastante na relação doce do casal principal e nas maldades de Lucille, brilhantemente interpretada por Chastain. O medo vem desta e dos detalhes técnicos, que vamos discutir no próximo parágrafo.
Del Toro criou um mundo fantástico visualmente. A casa em Crimson Peak, o figurino e os fantasmas góticos apresentam uma intensa variedade de sentidos para quem assiste. O imóvel é cativante em função de seu enorme espaço e o clima assustador provocado pelas cores frias e quentes (destaque para o vermelho!), sons esquisitos e decoração bizarra. O local definitivamente ajuda a nos ambientar na história.
O interessante dos fantasmas é que eles aparecem desde o início, então as cenas assustadoras não nos afetam por causa da aparência deles, mesmo estes sendo visualmente ameaçadores com os olhares medonhos e os dedos finos e longos. O que nos toca é todo o conjunto, que engloba o cenário, a trilha e a ocasião. E Lucille, é claro. A irmã do submisso Thomas é certamente um dos fatores que contribui para o tom obscuro da produção, ainda mais no clímax, quando entendemos tudo e o que ela fez para chegarmos até ali.
A Colina Escarlate é um filme encantador de Guillermo del Toro. O roteiro é bem desenvolvido, apesar de alguns deslizes (o papel de Charlie Hunnam é bem mal explorado), a trama desperta nossa curiosidade e nos surpreende à medida que avança, mesmo revelando a possível intenção dos antagonistas desde o começo. O elenco é formidável, especialmente Chastain, e o visual definitivamente chama a atenção, em especial para aqueles que gostam de vermelho, como eu.