INDIE 2008 – DIA 01

Depois de uma correria louca pra chegar a tempo, (em cima da hora, na verdade) consegui pegar a seção do meu primeiro filme do Indie deste ano, Cabeça de Mamãe (La tête de Maman), da diretora francesa Carina Tardieu. E não me perdoaria se tivesse perdido essa deliciosa e delicada história de Juju, uma garota que se questiona sobre o porquê da apatia de sua mãe, sempre sentada em um banco, com o olhar pensativo, de quem ficou perdida num passado sem volta. O que pode mudar com uma forcinha da garota, que, ao encontrar um vídeo caseiro, feito por sua mãe e um namorado da adolescência, e ver que sua mãe já foi feliz um dia, decide partir em busca do rapaz, a fim de recobrar a alegria de viver se sua distante mãe. É interessante a forma como a diretora desenrola a história. Longe de exagerar num tom dramático, sabe dosar bem momentos de humor, com momentos em que se retrata a frieza daquela mulher frente à vida, apesar de um marido afetuoso, e de uma filha, no mínimo espirituosa. Além disso, parece ser um pouco hipocondríaca, pois reclama constantemente de dores abdominais…

O Fato é que apesar de sentir esta distância de sua mãe, e de em determinados momentos odiá-la por isso, nem que seja apenas na sua imaginação, as duas são muito parecidas, e esta jornada em busca da história de sua mãe acaba por fazê-la descobrir e escrever a sua própria durante o processo. A cena da “porta-espelho”, por exemplo, é muito bem pensada pela diretora, que decide mostrar, não apenas através do texto, mas também de imagens, as semelhanças que num primeiro momento passam despercebidas. É um novo olhar sobre nossos pais, incompreendidos sempre num primeiro momento, mas que possuem uma história que os fez assim. Afinal, são como nós, seres humanos também. Nós é que esquecemos disso às vezes…

O próximo filme seria o alemão Ato de Violência (Horehe Gewalt). Seria. Porque, por um erro na sincronização da fala/legenda/cenas do filme acabou não sendo exibido. :/

Aula de Filosofia da Linguagem. Retorno ao Indie pra ver a única exibição de Fronteiras da Alvorada (La frontière de L’aube), de Phillipe Garrel. A história boa, mas não a ponto de justificar todo o hype que se formou em torno dela (foi o filme de abertura do festival), de François (o Louis Garrel de Os Sonhadores), e dois de seus amores que não aconteceram de forma simultânea, mas que afetam a vida do rapaz de forma irreversível. A primeira é Carole, uma casada e solitária atriz, com quem vive um caso, depois de ser contratado para fotografá-la. Entre juras de amor eterno, e conversas sobre rompimento (belas falas inclusive), vem a loucura causada pela dependência, e, em seguida, a morte. O segundo amor de François é Eve, moça que conhece por acaso, e com quem logo terá um filho. Uma vida é prometida ao jovem fotógrafo com ideais comunistas, e embora diga que ama a moça (numa das ótimas falas do filme, ele diz que não pode negar o fato de já ter amado alguém na vida, mas com ela além do amor, vem a sensação de necessidade, de falta, e de completude, que faz a presença da pessoa amada ser essencial até para a sua própria felicidade), quando está prestes a se casar com ela a dúvida sobre seus sentimentos aparece, junto com um fantasma do passado. Analisando o filme agora, um dia depois de tê-lo assistido, digo que é um bom filme (diferentemente da recepção do público), todo filmado em preto e branco e com uma belíssima fotografia, e edição esperta. Sem falar na trilha. Mas é um pouco cansativo, poderia ser mais curto…