ALL CHEERLEADERS DIE É SOBRE MULHERES CANSADAS DE SEREM OBJETO e mostrando seu poder de vingança. Só que o próprio filme parece desconhecer essa mensagem, visto que as protagonistas são vítimas no começo e pagam pela sua ignorância; e continuam como vítimas após passarem por uma transformação, que sinceramente deveria torna-las criaturas sedentas por sangue ao contrário de jovens ainda mais desmioladas. A direção é de Lucky McKee, o mesmo maluco que em 2011 dirigiu The Woman, que possui temática semelhante, mas um teor bem mais adulto e sério. All Cheerleaders Die é diversão tosca para quem gosta de filmes de horror adolescentes e não se importa com a qualidade duvidosa do elenco e efeitos visuais.
A trama apresenta esse grupo de garotas que sofre um sério acidente depois que um jogador de futebol americano agride uma líder de torcida e foge sem prestar socorro. Após serem resgatadas e sobreviverem graças à intervenção de uma bruxa, as moças retornam para a escola e deixam os garotos de cabelo em pé sem saber o que aconteceu e como elas ainda estão vivas.
Em The Woman, McKee já havia acertado na dose de crítica para a sociedade ao colocar em cena uma mulher selvagem que vira objeto sexual de uma família de pervertidos. Em All Cheerleaders Die, o cineasta acerta mais uma vez ao trabalhar com a imagem das líderes de torcida e como elas são vistas pelas pessoas. Temos quatro garotas que são vítimas da brutalidade de um jovem psicopata disfarçado de estudante, sendo que uma delas é baixinha e desprovida de qualquer sex appeal; uma é uma maníaca controladora; temos a loirinha sensual que deixa todo mundo boquiaberto; e a protagonista lésbica que faz intriga na vida da loirinha só para dar uns pegas na moça. Sim, as duas se beijam. Não é como na Globo: o beijo lésbico não foi censurado e funciona muito bem para justamente fisgar o público mais distraído e que apenas interpreta o que está em cena, sem nunca se aprofundar na discussão e perceber que o diretor está brincando com seu público. Ao transformar essas quatro garotas, com a companhia de uma quinta, em mulheres que exalam sensualidade em determinado momento do filme, o diretor dá a entender que: “hey, seus babacas! Vocês querem pegar a gente, mas quem vai comer de verdade somos nós”.
O grande problema do longa-metragem é o tempo que ele gasta para preparar o terreno para a grande virada da história. Logo após a introdução, acompanhamos a protagonista meio que se infiltrando no grupinho seleto de líderes de torcida. A expectativa é que ela possui um plano realmente cruel ou quer chegar a algum objetivo, mas a raiva apresentada nos primeiros minutos é rapidamente substituída. Seria o retrato do espírito adolescente ou apenas uma fragilidade do roteiro, que ainda peca por personagens totalmente unidimensionais e sem qualquer força.
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A falta de foco incomoda bastante. De terror adolescente passamos para drama com garotas sendo vítimas da falta de respeito dos garotos que se acham como reis do pedaço, então descobrimos que existe uma tendência meio zumbi no roteiro até finalmente virar um filme sobre bruxas. Felizmente, essa feijoada búlgara funciona o suficiente para não ser levado a sério e divertir aqueles que se aventurarem a perder mais de 90 minutos na frente da televisão.
Se a crítica subversiva de McKee é eficiente ou não, depende muito do olhar do espectador. Ao brincar com o delicado tema da objetificação feminina, o filme pode simplesmente provar do próprio feitiço e ser apenas mais um a ser considerado como uma grande ofensa machista. All Cheerleaders Die não é um daqueles filmes que você recomendaria para qualquer pessoa. É uma obra indicada para os fãs de produções mais toscas, com humor sem noção e com uma moral da históra bastante pretensiosa que corre o sério risco de passar em branco para muitos. No entanto, com todos os seus problemas, é um prato cheio para os fãs do gênero.