Spin-off de Invocação do Mal deixa a desejar em relação ao original, mas garante bons momentos de tensão para os fãs do gênero.
A BONECA ANNABELLE ENTROU EM NOSSAS VIDAS CINÉFILAS EM 2013, ao fazer parte do assustador Invocação do Mal, de James Wan. A produção foi um dos destaques do gênero na temporada passada e garantiu um lugar no topo da lista do Cinema de Buteco com os melhores filmes de horror de 2013. Annabelle apareceu pouco no longa-metragem, mas foi o suficiente para conquistar a atenção e curiosidade do público – e dos executivos de Hollywood que enxergaram potencial para lançar um spin-off contando a origem da boneca e garantir $u$to$ dos espectadores.
Annabelle conta a história de um casal norte-americano dos anos 1960. Após terem os vizinhos assassinados por um casal de lunáticos de uma seita maluca (há uma boa referência ao assassino Charles Manson durante os minutos iniciais, para contextualizar o público), eles se mudam para um apartamento e passam a ser assombrados por uma perigosa entidade demoníaca disposta a roubar a alma de quem der mole.
Sem a direção eficiente de Wan, sobrou para John R. Leonetti (diretor de fotografia de diversos trabalhos de James Wan, como o próprio Invocação do Mal e Sobrenatural) assumir a função. Podemos dizer que ele aprendeu muito com o cineasta, já que consegue estabelecer grandes momentos de tensão (nunca na história do cinema uma máquina de costura deixou tantos espectadores apreensivos) em que a expectativa valia mais do que a surpresa que poderia existir ou não. A única diferença é que John Leonetti não é James Wan, e não consegue fazer milagre com uma trama pouco inspirada e até meio boba – apesar dos sustos.
A trilha sonora funciona como um mecanismo potente para mexer com o espectador, e não possui nenhum tema específico que se destaque. Ainda assim, ao ser utilizada como a maioria dos filmes de terror costumam fazer, a música aumenta ainda mais o nível de tensão dos principais momentos do longa-metragem, como a traumatizante sequência do elevador. O sucesso da cena se deve ao fato da maioria de nós guardar certo receio da ideia de lidar com um elevador dando defeito. Aliás, apenas ele já garantiria a tensão independente do que quer que acontecesse. Se você já ficou preso dentro de um elevador, sabe bem o que estou falando.
Durante boa parte da trama existe a impressão de que o longa-metragem busca fazer homenagens ao cinema de Roman Polanski, com diversas evocações a O Bebê de Rosemary (além da trama acontecer dentro de um apartamento, a personagem principal se chama Mia, numa alusão direta a Mia Farrow, protagonista do clássico de Polanski) e especialmente Repulsa ao Sexo, já que a atriz Annabelle Wallis possui um visual semelhante ao de Catherine Deneuve e lida com suas suspeitas de que algo ruim está para acontecer. Isso deveria ser algo bom, mas que funciona apenas para o deleite dos cinéfilos de plantão. Afinal de contas, uma homenagem não é o suficiente para sustentar uma produção com um trabalho de elenco medíocre e caricato. Talvez a falta de um elenco talentoso seja um dos principais defeitos de Annabelle. Se Wallis tivesse mais coisas em comum com Deneuve, possivelmente o resultado seria outro.
Annabelle é divertido o suficiente para garantir a atenção dos amantes do gênero, mas o seu grande mérito é apresentar um cineasta que aprendeu muito com seu trabalho com James Wan, um dos grandes “mestres” do terror atualmente. Ainda que Leonetti tenha outros créditos de diretor (Efeito Borboleta 2 e Mortal Kombat: Aniquilação – mas nós estamos IGNORANDO ISSO para não queimar o filme do cara), fica a expectativa para descobrir como ele se sairia com uma produção com um orçamento mais generoso, especialmente para o elenco.
[duasemeia]