Be Kind Rewind

25 de Março – Uma homenagem aos filmes genéricos

Be Kind Rewind

ESTA TERÇA-FEIRA É DIA 25 DE MARÇO, data em que foi redigida a primeira constituição do Brasil, em 1824. Como homenagem, a cidade de São Paulo batizou uma de suas grandes ruas, que de constitucional não tem nada. A 25 de março, maior centro comercial da América Latina, na verdade abriga as várias ruas da região (incluindo a lendária Galeria Pajé) famosas por vender Naike, Ardidas, Luis Vitão, entre outras coisas.

Dizem as más línguas que a região também vende todo o tipo de filme diretamente do baú do Jack Sparrow. Para homenagear a rua por onde mais passeiam os piratas do Brasil, o Cinema de Buteco fez uma seleção de filmes genéricos. Os filmes que satirizam clássicos e que, muitas vezes, ficaram melhor que o original.


Casino Royale (1967)

Se Ian Fleming estivesse vivo hoje, com certeza seria um dos homens mais ricos do mundo. Em tempos que qualquer nova história precisa ser escrita em três ou quatro livros e serem adaptadas para o cinema (não vamos questionar a qualidade), o universo do espião britânico 007 rende inúmeras releituras. Além dos livros e dos filmes oficiais da franquia, existem outras adaptações que às vezes surpreendem (ressalto: as vezes!)

Nessa seara, Casino Royale (de 1967, não confunda com a versão de 2006 da série oficial) é uma obra única. Com menos de 5 minutos de película, você irá se questionar se o filme é realmente do mesmo espião criado por Ian Fleming, afinal todos os elementos estão ali: o espião, a agência de Inteligência Britânica, armas, mulheres etc, mas logo, logo você verá que essa é uma comédia de espionagem das mais questionáveis. Em algum momento você irá se perder e não entenderá nada que do que se passa – mas não se preocupe, você terá 5 diretores para culpar (!) – e vai concluir que só conseguirá chegar até o final do filme se não tentar entender o que está acontecendo.

Mas Casino Royale também possui as suas preciosidades, com participações de Orson Welles (diretor de Cidadão Kane), Woody Allen (em um dos poucos que não dirige ou roteiriza) e Ursula Andress (que já havia assumido o papel de Bond Girl em 007 – O Satânico Dr. No, de 1962 (penso que para aceitar ou ela tava muito sem grana, ou Woody Allen devia estar dando uns pegas desde O Que é que Há, Gatinha?); além de uma indicação do Oscar de 1968 com a música “Look Of Love”. Assista, mas com a mente a aberta!

Fabrício Carlos


The Rocky Horror Picture Show (1975)

Há quem vá me criticar e bater o pé: “RHPS não é paródia”, afirmarão os entusiastas do musical – que não são poucos; de Munique, onde, desde seu lançamento em 1975, acontecem sessões regulares à meia-noite de sábados. No Brasil, onde a horda esquisita de fãs garante sua projeção ainda hoje (no Rio, a última aconteceu na retomada do Cine Joia, em Copacabana), o filme ganha status de cult e vende blu-rays como água. O mundo pop se alimenta do filme tão vorazmente, que já houve até episódio especial (e covardíssimo, já que substituía as insinuações sexuais por piada para adolescentes-de-glee) de Glee (já sei, já sei: who cares?) e referências importantíssimas no novo cult pop whatever As Vantagens de Ser Invisível.

O musical trata de um casal certinho demais para ser verdade – uma Susan Sarandon estonteante (sim, culpem-me!) e… Barry Bostwick (?). No caminho para avisar a um professor (??) que seu casamento está marcado, deparam-se com uma chuva torrencial na estrada deserta, um pneu furado e um castelo (???), onde acontece uma festa em homenagem ao anfitrião: um vampiro travesti transexual da Transilvânia (??wtf??) – Tim Curry, até hoje, recusa-se a falar sobre esse pitoresco papel em sua gloriosa (ok, desisto das interrogações!) carreira.

Entre a liberdade sexual da década de 70 e as milhares de referências aos filmes de monstro da Universal da década de 30 e aos de terror e sci-fi das décadas de 50 e 60 – a canção de abertura, por exemplo, é uma colagem de filmes da MGM e da Universal, como King Kong (1933), A Noiva de Frankenstein (1935), O Dia em que a Terra Parou (1951), O Terror Veio do Espaço (1963), O Fim do Mundo (1951) etc. –, o filme encontra sua essência na homenagem explícita, na brincadeira com os clichês do gênero e nas músicas porretas e esquizofrênicas de Richard O’Brien, que também atua no filme, como o mordomo Riff Raff.

Raphael Katyara

Para aumentar a histeria, o filme, que nasceu musical de teatro na Inglaterra, também ganhou uma montagem no Brasil, em 1994, sob direção do divertics Jorge Fernando e atuação inesquecível de Claudia Vamp Ohana no papel de Janet. Sim, vocês poderiam ter dormido sem essa. Mas não vão:


A Vida de Brian (1979)

Eu sinceramente não conheço nada mais engraçado que Monty Python. A série é genial, os longas são incríveis e de tudo o que eu vi deles, a melhor coisa talvez seja A Vida de Brian, uma grande paródia de Jesus e de filmes bíblicos.

O filme se passa na época de Cristo e narra a vida de um outro rapaz que também morreu crucificado e era tido como profeta (mas ele mesmo negava essa possibilidade). O projeto quase que não foi realizado e teve inclusive apoio financeiro de George Harrison. O ex-Beatle, que era fã do grupo, criou uma produtora apenas para fazer com que o pudesse ser realizado e colocou 3 milhões de libras, “o ingresso mais caro da história do Cinema”, como disse Terry Jones uma vez. Aposto que Harrison jamais se arrependeu de ter gasto esse dinheiro todo para fazer com que essa obra prima tenha sido filmada.

João Golin


Apertem os Cintos… O Piloto Sumiu (1980)

Paródia dos filmes-desastre que faziam a festa nas bilheterias nos anos 70, principalmente Aeroporto e suas continuações, Apertem os Cintos… O Piloto Sumiu! (cujo inspirado título brasileiro é um raro exemplo de tradução melhor que o original – um simples e sem-graça “Airplane!”) é um daqueles filmes tão idiotas – no bom sentido – que tem que ser muito mal-humorado pra não achar graça. Sua contagem de piadas por minuto é altíssima e muitas se tornaram verdadeiros clássicos, a ponto de ter fala do filme até na lista de 100 melhores citações do cinema segundo o American Film Institute. Minha favorita é quando a aeromoça diz: “Todo mundo em posição de colisão!”, e os passageiros se deitam nos assentos e começam a gemer e tremer como vítimas de um acidente aéreo; mas essa é só uma entre os inúmeros momentos que tiram sarro de tudo e todos, incluindo filmes famosos e seus clichês.

Apertem os Cintos… deu cria a toda uma geração de paródias, muitas dirigidas pelo mesmo trio ZAZ (David Zucker, Jim Abrahams e Jerry Zucker, responsáveis por Top Secret! e Corra Que a Polícia Vem Aí) e com o mesmo Leslie Nielsen que faria desse tipo de filme seu principal ganha-pão. Mas esta comédia-desastre absurda e hilária continua imbatível.

Lucas Paio


Batman – Feira da Fruta (1981)

A série clássica com Adam West e Burt Ward já era, em si, uma paródia, assumindo a tosqueira e o humor e usando um tom completamente diferente do Batman “nolaniano” a que estamos acostumados hoje. Mas uma redublagem brasileira, gravada de improviso pelos amigos Fernando Pettinati e Antônio Carlos Camano em 1981, elevou a zoeira a um nível estratosférico. Batman tornou-se eunuco, Robin virou um desbocado malcriado e o Coringa manifestava a vontade de fornicar com todo mundo, incluindo a pobre tia do Homem-Morcego. A brincadeira passou mais de vinte anos esquecida num VHS velho por aí, mas virou fenômeno nacional lá pelos idos de 2003, quando a popularização da banda larga possibilitou o compartilhamento de vídeos. E o “Filme do Bátima”, com sua putaria desenfreada e palavreado chulo, era o candidato perfeito para viralizar.

O vídeo fez tanto sucesso que deu origem até a uma adaptação em quadrinhos, feita por um bando de fãs malucos e extremamente competentes que desenharam trinta e tantas páginas com a história completa (http://batimahq.blogspot.com). Fica agora a expectativa de levarem a obra para o cinema. Será que ainda dá tempo de trocarem Ben Affleck por um Batman dublado por Fernando Pettinati?

Lucas Paio


Spaceballs: Tem Um Louco Solto no Espaço (1987)

Talvez eu possa afirmar que Spaceballs marcou o primeiro contato que tive com Star Wars. A ignorância acerca da obra original certamente não me impediu de rir até falar chega das peripécias protagonizadas por Rick Moranis, John Candy e Bill Pullman. Com muitas piadinhas infames, a comédia merece um lugar de destaque dentre todas as outras paródias já produzidas no mundo do cinema, como Duro de Espiar, Top Gang, Todo Mundo Quase Morto e Trovão Tropical.

Tullio Dias

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Austin Powers – Um Agente Nada Discreto (1997)

A franquia 007 é uma das mais extensas e icônicas da história do Cinema e obviamente surgiram diversas paródias ao passar dos anos. Talvez a mais divertida seja Austin Powers – Um Agente Nada Discreto. O longa sobre o espião britânico dos anos 60 que vai para o futuro é simplesmente hilária. Um dos grandes méritos do filme é brincar com o fato de o personagem ser de outro tempo, então existem constantes piadas com tecnologias e sobre o perigo da AIDS. Talvez não seja uma obra para todos os tipos de público, já que ela tem uma grande parte das piadas baseadas em trocadilhos (difíceis de serem traduzidos) e em humor pastelão. Nenhuma das duas continuações superou a qualidade dessa primeira obra.

João Golin


Todo Mundo Quase Morto (2004)

Edgar Wright é uma espécie de Tarantino inglês das paródias: tudo o que toca torna-se cult. Seu cinema-de-referências o levou até mesmo a fazer um dos melhores fake trailers de Grindhouse, Don’t!. Nesse sentido, este Todo Mundo Quase Morto (mais um título genérico extraído da máquina-de-títulos-genéricos do Sistema Silvio Santos Brasileiro de Televisão), nascido do original ‘Shaun’ of the Dead – um trocadilho entre o nome do protagonista e ‘Dawn’ of the dead, do mestre Romero –, é uma hiper-realização engraçadíssima do mundo pós-apocalíptico.

A esse propósito, é importante afirmar que, ainda em 2004, foi Wright quem abriu caminho para outras produções de mesmo gênero, como Fido (2006), Zumbilândia (2009), Meu Namorado É um Zumbi e Guerra Mundial Z (ambos de 2013).

Espera. Acabaram de me avisar aqui na mesa ao lado que, estranhamente, Guerra Mundial Z não entra no gênero paródia/comédia. Esse mundo anda meio esquisito. De qualquer maneira, ainda que vocês já tenham se assustado com o título, não devem perder uma das melhores comédias do período. Mas sabem como é, é humor inglês. Pode ser que o gore e o excesso de weed sejam um pouco demais pro nosso gosto ocidental.

Oh, espera!

Raphael Katyara


Deu a Louca na Chapeuzinho (2005)

Você, muito provavelmente, cresceu ouvindo, lendo ou assistindo (Disney se encarregou disso!) histórias de fantasias como Cinderela, João e Maria, Branca de Neve e outras. As tão malfadadas histórias de conto de fadas, de tempos em tempos estão sujeitas a alguma releitura seja na literatura ou no cinema, e das mais diversas perspectivas: ora com um olhar mais leve, ora buscando um tom mais realista ou mesmo mudando completamente os elementos principais da história original.

Nessa categoria temos a animação Deu a louca na Chapeuzinho que subverte o conto Capuchinho Vermelho, dos irmãos Grimm em uma divertida história policial, onde heróis e vilões podem não ser aqueles que esperamos de antemão. Não é uma animação que se destaque por sua qualidade técnica, mas sim pelo excelente roteiro que foi capaz de agradar tanto o público infantil quanto os adultos, com piadas sutis e inteligentes que superam nossas expectativas pré-concebidas. Afinal, por que o lobo tem de ser sempre mal? E será que mocinha da história não faz nada de ruim?

Fabrício Carlos


Rebobine, Por Favor (2008)

Muitas décadas depois de várias paródias de sucesso, o genial Michel Gondry resolveu dar um nome a estas pérolas toscas e mal interpretadas: filmes suecados (ou sweeded, no original).

A alcunha surgiu em Rebobine, Por Favor, a sua declaração de amor ao cinema e as videolocadoras de 2008. Na trama, Mike (Mos Def), um atendente de uma locadora de VHS (obviamente em decadência) e seu amigo Jerry (Jack Black) tem que refazer vários clássicos do cinema, como Os Caça-Fantasmas, após de desmagnetizar e inutilizar sem querer todas as fitas.

O subestimado filme, além de sua bela declaração, tem cenas hilárias como Jack Black imitando Jackie Chan, em A Hora do Rush.

Larissa Padron

E para você leitor? Qual é a sua paródia favorita?