A Morte do Demônio

O Cinema de Buteco adverte: a crítica a seguir possui spoilers e deve ser apreciada com moderação.

A Morte do Demônio - PosterCOSTUMAM DIZER POR AÍ QUE CRIAR EXPECTATIVA É RUIM, especialmente quando se trata de cinema. Pessoalmente, defendo que não há muita graça em viver alguma coisa sem criar o mínimo de esperanças, e confesso que A Morte do Demônio, de Fede Alvarez, era uma das obras que eu estava mais ansioso para assistir em 2012. Minhas apostas estavam lá em cima, e felizmente, a refilmagem do clássico dos anos 80 não foi ofuscada pela minha ansiedade. Não posso dizer que seja nem melhor ou pior que o original, é apenas bem diferente.

A trama é a mesma, no entanto. Um grupo de cinco jovens vai passar uns dias dentro de uma cabana distante e acabam despertando uma entidade demoníaca sedenta por sangue. Os clichês são ignorados quando o roteiro (revisado por Diablo Cody, cujo nome não aparece nos créditos) tenta dar maior profundidade aos seus personagens e adiciona detalhes inteligentes, como a dependência química de Mia (a competente Jane Levy), que por acaso é sorteada para ser possuída pelo coisa-ruim em pessoa.

Depois de O Segredo da Cabana abalar as estruturas do estilo com diversas citações ao A Morte do Demônio original, de 1981, como a cena em que a porta do porão abre de repente, deu uma certa decepção quando os personagens descobrem que existe algo podre lá dentro. Mas como mencionei acima, faz parte das alterações do roteiro e são eficientes para a narrativa. O que nunca muda é a incrível coragem dos heróis, que mesmo depois de perceberem que estão no mesmo local em que aconteceu um ritual satânico, permanecem inabaláveis.

A Morte do Demônio - Ops

Apesar de seus defeitos, como não estabelecer uma conexão entre os acontecimentos da introdução com o decorrer da trama, Alvarez acerta em cheio quando instiga a imaginação do espectador em um momento em que o banheiro está completamente escuro e só escutamos um estranho barulho. Os mais atentos poderão intuir o que está acontecendo no canto da tela, mas mesmo assim, a cena é agonizante. Até agora estou com aquele maldito barulho na minha cabeça. O uso da steadycam, tão comum nos filmes originais, é quase que ignorado, sendo usado raras vezes.

A lendária cena do estupro selvagem é bem menos assustadora que a da versão original, além de cometer o equívoco de explicitar como Mia é possuída. A qualidade da produção e dos efeitos especiais acaba compensando o deslize, e é um dos principais pontos positivos da refilmagem. Ultimamente, muitas obras têm optado por abusar dos efeitos CGI, o que mais atrapalha do que ajuda quando se trata de tentar assustar o espectador com uma trama de possessão demoníaca. Os técnicos responsáveis pelos efeitos de A Morte do Demônio souberam usar a tecnologia a favor, como na parte em que Mia divide sua língua. 

Para os fãs do Evil Dead original, prestem atenção no carro abandonado que está próximo da cabana. Existem diversas outras referências, inclusive ao segundo filme, mas o roteiro se leva a sério demais e ignora qualquer possibilidade de fazer piada com o horror vivido pelos seus personagens. Dependendo do ponto de vista, talvez não tenha sido uma decisão muito boa, pois a “graça” de Evil Dead estava justamente na falta de noção das suas cenas, como por exemplo a famigerada risada da namoradinha de Ash (Bruce Campbell).

A Morte do Demônio - Jane 2

A Morte do Demônio é um belo exemplar de horror, especialmente numa época em que poucas produções mainstream conseguem escapar do risco de serem ridículas. Mesmo sem fazer o espectador pular de susto na cadeira, como é o caso de Mama, o remake consegue incomodar o suficiente para deixar os mais sensíveis com os cabelos arrepiados. Se a ideia for deixar a namorada (ou o namorado, vai saber) com medo e querendo passar a noite agarradinho depois da sessão, é sucesso garantido.

A Morte do Demônio - Jane

Ps: não deixem de conferir os créditos até o final para uma surpresa imperdível. Ps2: especialmente por A Morte do Demônio, aguardem por uma lista de melhores beijos de 2013, no final do ano. Sério.

Nota:[tres]