Um Drink (no inferno) para os 53 anos de Quentin Tarantino

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CONHECI ESSE TAL DE QUENTIN TARANTINO EM MEADOS DE 1996, 1997 quando minha mãe chegou em casa com o VHS de Um Drink no Inferno. Desde pequeno eu gostava de histórias sangrentas e com uma violência surreal, e preferia ainda mais quando haviam vampiros incluídos de brinde. Eu tinha uma certa admiração pelo George Clooney (pelos motivos errados, confesso: ele seria o Homem-Morcego em Batman e Robin, de Joel Schumacher) e desconhecia o sujeito estranho que matava todo mundo e estava lambendo o pé da dançarina interpretada por Salma Hayek. Naquela época eu era inocente demais para compreender tudo que era apresentado na tela, incluindo o inesquecível strip de Hayek, mas fiquei curioso para conhecer mais sobre aquele cara cabeçudo e esquisito.

Como não tinha computador naquela época, meus recursos eram escassos e dependiam praticamente das revistas de cinema que eu costumava ler (devorava a parte de cinema da Veja) e das longas conversas com meus amigos de escola e os donos das locadoras que eu frequentava. Foi justamente em uma dessas visitas que percebi que Quentin Tarantino era o cara que havia escrito o roteiro de Assassinos por Natureza. Meu interesse triplicou, afinal se tratava de um dos meus filmes favoritos na época, mas ainda havia mais uma descoberta a ser feita: Quentin Tarantino também era o diretor e roteirista de Pulp Fiction. Admito que cagava e andava para quem era o diretor, roteirista ou produtor, meu negócio era saber dos atores. Assim que julgava a qualidade de um filme ou de outro. Até aquele momento não havia assistido ao longa-metragem que havia ressuscitado a carreira de John Travolta, e fui obrigado a voltar para a casa com o VHS na mão e assistir a um dos filmes mais importantes da década de 90.

Pulp Fiction não mudou a minha vida. Minha mãe odiou. Meu pai dormiu. Minha avó gostou, mas achou violento demais. Só mesmo o meu avô, delegado de polícia, se divertiu com a história toda e virou fã do Tarantino. De qualquer maneira, sempre que podia assistia Pulp Fiction novamente e tentava imitar a dancinha de Travolta e Uma Thurman. Sempre que me perguntavam dos meus diretores favoritos, eu respondia: Quentin Tarantino. Primeiro por ser um dos poucos que eu conhecia de nome; e segundo pelo tanto que me diverti com Um Drink no Inferno. Dane-se o hype.

A minha relação com o cinema de Tarantino só começou a mudar em 2004, quando Kill Bill estava para ser lançado no Brasil (a estreia nos EUA havia sido em outubro). Minha visão do cinema já estava bem amadurecida, e eu já conhecia o nome de outros diretores. As amizades virtuais mais antenadas estavam em polvorosa com o “retorno” de Tarantino, e eu na maior calma. Não entendia aquela histeria. Assisti ao primeiro filme e me diverti tanto quanto em Um Drink no Inferno – apesar da ausência de uma stripper como Salma Hayek. Vi o segundo filme acompanhado de uma namorada, e foi bom por ter sido uma das primeiras vezes que desviei a atenção da tela para concentrar (um pouco) na garota. Valeu a pena, diga-se de passagem.

Em 2009, o Cinema de Buteco já havia nascido e decidimos aproveitar a estreia de Bastardos Inglórios para homenagear a carreira de Tarantino. Aproveitei para ver Amor a Queima-Roupa pela primeira vez, e ter a segunda experiência com Cães de Aluguel e Jackie Brown. Além disso, me preparei para assistir e escrever sobre Um Drink no Inferno, o filme que havia começado toda essa história.

Depois de Bastardos Inglórios, Quentin Tarantino se consolidou como um dos principais cineastas surgidos nos últimos 20 anos e que conquistou com louvor o seu lugar na história do cinema. A cena final, com Brad Pitt olhando para o espectador e dizendo: “Essa é a minha obra-prima”, não era um exagero: Bastardos Inglórios é mesmo uma obra-prima.

Eu nunca poderia imaginar que o diretor pudesse se superar tão cedo, mas foi o que aconteceu logo na sequência, com a estreia de Django Livre. Talvez seja pela história de vingança motivada pelo amor, talvez seja pela combinação de rap com western, talvez seja pelas atuações, não sei ao certo. O fato é que Django Livre é o meu filme predileto de Quentin Tarantino, e mais um daqueles que me fazem ter orgulho de dizer que ele é um dos meus cineastas favoritos entre os outros cinco que eu sei o nome. Não interessa se ele optou por se manter nas referências e homenagens aos grandes clássicos, que ele não “evoluiu” como outros colegas da mesma geração. Nada disso importa enquanto houver a vontade dele em dar o seu melhor para o público que conhece tão bem. E bem, não vamos falar sobre as críticas para a violência das obras de Tarantino, pois quem usa esse argumento certamente está avaliando apenas o produto e não o produtor.

Para comemorar o aniversário de 53 anos do Quentin Tarantino, selecionamos algumas de suas obras mais divertidas:

Bastardos Inglórios

Bastardos Inglórios é o sétimo longa-metragem de Quentin Tarantino. Nele, o diretor e roteirista cria uma fantasia a respeito da época em que os alemães nazistas perseguiam e executavam judeus, misturando realidade e ficção. A família judia Dreyfus, perseguida pelo coronel nazista Hanz Landa, é uma ponte segura com o real. Já a trama com o tenente Aldo Raine e seu grupo de soldados judeus americanos cria uma situação bastante interessante, porém bem distante dos fatos históricos. A iluminação da sequência inicial, em que o coronel Landa conversa com o fazendeiro LaPadite tem a beleza de uma pintura clássica. Para finalizar, Tarantino proporciona uma trama em que é impossível não sentir a catarse exatamente como falou Aristóteles na Poética: o espectador lava a alma. (Aline Monteiro)

Cães de Aluguel

Vi Cães de Aluguel num cineclube meio clandestino no mezzanino de uma locadora que tinha acabado de abrir no meu bairro. Tudo que Tarantino se esforçou pra incluir – as vezes forçadamente – em seus filmes estão perfeitamente fluidos e coesos nesse filme. Só não gosta quem está amarrado em uma cadeira enquanto toca “Stuck in the middle with you”. (Daniel Corrêa, filmmaker e colunista e podcaster do Tenho Mais Discos Que Amigos)

Kill Bill Vol.1

Se eu bem me lembro, o primeiro filme do Tarantino que assisti foi Kill Bill Vol.1. Começando bem ou não, fiquei louco pra conhecer mais sobre o tal diretor que fez um filme sensacional de vingança com uma pitada de humor e cheio de sangue falso jorrando na tela! Sem falar do elenco muito bem escolhido. O simples fato da protagonista ser uma mulher já é excelente. Isso somada às inúmeras cenas de ação entre mulheres, é no mínimo divertido! Um bom roteiro, uma ótima direção. Desse dia em diante, Tarantino ganhou um lugar cativo na minha prateleira de filmes. (Wendel Wonka)

Pulp Fiction – Tempos de Violência

pulp fictionUm filme estranho, com montagem nada linear, com estética diferente. No lugar de heróis, pessoas de presenças marcantes fazendo coisas que uma adolescente careta se assustaria. A primeira vez que assisti foi em VHS, a capa já estava com imperfeições causadas pelo tempo e o rosto de Uma Thurman chamava atenção por ser tão lindo e capaz de expressar certa atitude. Ouvir alguém seis anos mais velho (uma grande diferença de idade quando se é adolescente) afirmando ‘porque Tarantino é FODA’ fez com que aquele momento se tornasse único, como quem se prepara para dar um grande passo. Muito sangue, sarcasmo, naturalidade diante de um monte de coisa bizarra, cocaína/heroína, uma trilha sonora que não sai mais da cabeça e o pensamento ‘meu pai não vai gostar de saber sobre isso’. Foi assim que descobri que o cinema não se resume a começo, meio e fim (Thais Vieira)

Django Livre

Django Livre, ao lado de Breaking Bad e Rango, é um dos grandes representantes do western na atualidade. O velho oeste não é lugar para qualquer um. Engraçado (e muito), violento (como poucos) e estiloso, o filme mostra que Tarantino continua muito bem, obrigado e que longe de algumas fórmulas, o gênero ainda tem muito sangue pra dar. Ou derramar. E, para aqueles que torcem o nariz para os que dizem que este é o melhor filme do diretor, posso dizer que há muito tempo que eu não via tantas pessoas admitindo terem vontade de voltar ao cinema para assistir ao mesmo filme. E não por ele ser complexo, mas apenas para saborear novamente o prato de pólvora e diversão que é Django Livre. (Kelson Douglas, editor do site Altamente Ácido)

Amor à Queima-Roupa

Se todas as histórias românticas envolvessem personagens tão únicos como os interpretados por Christian Slater e Patrícia Arquette, ninguém iria dizer que são clichês e altamente previsíveis. Mas já que uma garota de programa (ou acompanhante, como ela prefere) e um empregado de uma loja de gibis velhos não são exatamente o modelo padrão de um relacionamento hollywoodiano, só mesmo alguém como Quentin Tarantino poderia ser o responsável por criar uma história assim. E ele faz um bom trabalho, ou pelo menos tenta, já que Tony Scott é o diretor e responsável pelo resultado final da produção. (Tullio Dias)

Um Drink no Inferno

Um Drink no Inferno é o tipo de filme que retrata perfeitamente a melhor espelunca possível para se ter um porre e/ou abraçar o capeta. O bar é escroto, destruído, detonado, cheio de matadores mexicanos, caminhoneiros tarados e claro, as mulheres mais gostosas do México. O único problema é que são vampiras sugadoras de sangue, ou seja, elas te chupam inteirinho. Mas não desespere-se: os mexicanos feiosos não iriam recusar o seu pescocinho. O bom é que durante os poucos minutos em que esteve em cena, Salma Hayek conseguiu me deixar boquiaberto. Exceto na parte em que se transforma em vampira, que mais parece uma cobra from hell com patas. (Tullio Dias)

Filmografia Quentin Tarantino comentada no Cinema de Buteco:

Cães de Aluguel – por Flávia Andrade ; por Marcos Xi
Pulp Fiction – por Tainã Senna
Jackie Brown – 
por João Andrade
Grand Hotel – por Fred Borges
Kill Bill: Volume 1
 – por João Andrade
Kill Bill: Volume 2 – por Wendel Wonka
À Prova de Morte – por Joubert Maia
Bastardos Inglórios – por Wendel Wonka; por Joubert Maia
Django Livre – por Tullio Dias

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