maggie grace the fog

A Névoa

EXISTEM FILMES QUE ENVELHEM E NECESSITAM DE REMAKES, mas não podemos afirmar de maneira alguma que A Névoa cumpriu bem o seu papel na hora de modernizar o clássico A Bruma Assassina, de John Carpenter. A produção fracassa tanto como filme de horror quanto como tentativa de refilmar uma das obras mais elogiadas do cineasta responsável por Halloween e O Enigma do Outro Mundo.

maggie grace the fog

Uma cidadezinha é surpreendida por uma grande e perigosa neblima, que se revela como uma vingança sangrenta de um bando de fantasma que sofre de uma incapacidade crônica de perdoar (ou esquecer) os erros cometidos por um bando de quatro gananciosos, que é reverenciado na cidade. Os descendentes dos quatro larápios acabam pagando um preço alto, enquanto a cidade inteira fica com o cu na mão por conta da névoa maldita e inconveniente.

Pessoalmente, sou obrigado a admitir que minha primeira experiência com A Bruma Assassina não foi lá muito boa e coloquei o filme na minha lista de coisas superestimadas da carreira de Carpenter (portanto, eis a minha justificativa para acreditar que a produção do começo dos anos 80 merecia uma refilmagem moderna). Aliás, o diretor possui méritos por ter criado um dos maiores ícones do horror, o mascarado Michael Myers, e também pela versão congelada de Alien, O Oitavo Passageiro em O Enigma do Outro Mundo, mas na hora de pesar na balança os erros e acertos, há um grande equilíbrio entre coisas boas e outras extremamente ruins. A Bruma Assassina tem uma premissa genial, mas o seu desenvolvimento acabou deixando um pouco a desejar. Claro que isso é assunto para outra crítica e em breve vocês descobrem mais sobre isso. Ou não.

A Névoa tem direção de Rupert Wainwright (Stigmata) e mesmo contando com a produção de Carpenter e Debra Hill, acabou tomando certas liberdades inconvenientes e que simplesmente detonam o roteiro, além de serem muito desnecessárias. O moralismo mudou radicalmente a personagem de Maggie Grace (a Shannon, de Lost), que no original era apenas uma doidinha tarada e que transa com o cara com quem pegou carona. Simples assim. Liberdade sexual. U-ha! Como se não bastasse, a garota, que apesar de ter virado uma santa é vista andando de calcinha num frio dos infernos (isso sim é gratuito, gente), também vira o pivô da trama sem a menor justificativa plausível e que resulta em uma conclusão ridícula, para dizer o mínimo.


Outro problema de A Névoa é a presença de Tom Welling, o Superman de Smallville. Sei que é um comentário chato (especialmente para as meninas, embora eu tenha o direito de criticar isso após ter reclamado da calcinha verde da Shannon, opa, Maggie Grace), mas logo no começo ele surge sem camisa, apenas para exibir seus músculos. Cara, na moral. É uma cena para preencher a cota de atenção das meninas? Geralmente estou pouco me lixando para nudez em filmes, mas A Névoa é tão ruim que me sinto na obrigação de citar essas passagens. Sem deixar de lembrar das mortes pouco inspiradas (a sequência que acontece no barco é constrangedora) e do espectador hora nenhuma sentir um arrepio ou frio, coisa que acontece no original.

Durante determinado momento, a personagem de Grace sugere uma boa dose de sexo selvagem. Por um momento pensei que seria compensado por perder meu tempo, mas o que é que vejo então? O casal transando no chuveiro em slow motion. Sério? O sexo selvagem de A Névoa é visto de relance, com mais romantismo que uma comédia romântica de Nancy Meyers, sem direito nem a marquinha de soutien. Assim não dá. Pior é a garota estragando o computador do cara durante uma pesquisa por símbolos do além. Eu matava.

A essência do filme original era usar o medo do desconhecido, coisa que Carpenter sabe explorar como ninguém. Imagine só como seria se um bando de fantasmas psicopatas e vingativos resolvessem agir no meio de uma neblima? Você não tem para onde correr ou como se proteger. Se apenas a ideia é assustadora o suficiente, seria uma tarefa fácil tentar modernizar o filme para assustar uma nova geração. Infelizmente, para um filme que começa com uma canção do Fall Out Boy, fica claro que levar sustos não é o principal objetivo. É uma verdadeira queimação de filme para o legado de John Carpenter, que sempre teve cuidado especial com as trilhas e músicas de seus trabalhos. É o fim dos tempos, amigos.


Nota:[umaemeia]