O PRIMEIRO SOLDADO UNIVERSAL A GENTE NUNCA ESQUECE. Lançado em 1992, pelo diretor catástrofe Roland Emmerich, o longa-metragem aproveitou o ibope do Wolverine belga para criar uma das tramas com premissas mais interessantes da carreira do ator, mas que na prática, acabam deixando aquele gosto de “podia ser melhor” na boca. É quase a mesma sensação que temos quando entramos num bar atrás de tal cerveja e somos obrigados a nos contentar com uma versão bem piorada. Ou que deveria ser banida de todos os botecos do mundo.
Jean Claude Van Damme é Luc Devreux, um homem que vira uma espécie de RoboCop do exército, mas sem armaduras. Durante a época em que estava vivo, serviu na Guerra do Vietnã ao lado do maluco psicótico phd em Química Andrew Scott (Dolph Lundgren). Tudo ia bem na vida do soldado, até que o seu colega endoida e resolve matar todo mundo. Anos depois, os dois são utilizados na iniciativa Soldado Universal, uma unidade militar secreta e desenvolvida para fazer o que os soldados normais não eram capazes: resolver os problemas – isso porque eles não cruzaram o caminho do Capitão Nascimento, pois “missão dada, é missão cumprida”.
O projeto estava sendo muito bem sucedido até a intervenção de uma loirinha que acha que é jornalista. Devreux foge com ela, causando a ira de seus superiores e com isso recuperando a memória perdida do seu algoz, que mais emputecido que garçom querendo ir embora e tem que atender os pudins de cachaça que insistem em repetir a saideira 20x, começa a dar o jeito de resolver a missão do seu próprio jeito.
A produção parece ter marcado o trabalho de outros diretores, pois em um dos filmes da franquia Resident Evil existe uma sequência idêntica ao primeiro ataque dos soldados universais, que resgatam os reféns das mãos de um terrorista interpretado por um sósia do Dean Cain com rabinho de cavalo do Steven Seagal. Como se não bastasse o encontro de Lundgren com Van Damme, o público ainda é presenteado com um tipo assustador desses. Em Resident Evil, que não fica muito na frente no quesito de qualidade, pelo menos é a Milla Jovovich com roupas colantes.
Curioso notar que depois que o Scott recupera sua consciência, o longa-metragem parece iniciar um flerte com o gênero horror. Ou você explicaria de outra maneira plausível o fato do vilão enfiar a mão dentro da cabeça de um desavisado? Estou ignorando o fato de um filme estrelado por Dolph Lundgren já ser uma espécie de terror involuntário. Mesmo no final, quando ele é derrotado e “volta dos mortos” pela segunda vez (isso é um puta clichê de filme de horror) para tentar levar o mocinho junto. Claro que o nanico fã da Gretchen mostrou sua força e não deixou o pior acontecer.
Com diversas piadinhas infames (Van Damme é todo apalpado pela loirinha maluca, que ao pegar no pingulim do nanico, diz que está tudo perfeitamente normal) e concentrando “fogo” na ação desenfreada tradicional dos filmes de Emmerich, Soldado Universal mesmo com seus defeitos supera em muito suas duas continuações oficiais. O seu único problema é se levar muito a sério. Nenhum filme estrelado por Van Damme e com Dolph Lundgren atuando com vilões (ainda que sua performance seja excelente, levando em consideração que ele é um soldado que não precisa esboçar emoções) pode cometer esse equívoco. Nunca. Mas para quem gosta de ver o baixinho chutando traseiros em uma trama que pelo menos é interessante, esta é a melhor pedida. Dizem que Soldado Universal é o equivalente de Van Damme para o sucesso de Arnold Schwarzenegger em O Exterminador do Futuro 2, e Sylvester Stallone na franquia Rambo.