Dinossauros, cara! Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros está cheio deles!
EM 1993, STEVEN SPIELBERG LANÇOU O SENSACIONAL JURASSIC PARK – O PARQUE DOS DINOSSAUROS. Duas continuações inferiores foram lançadas nos anos seguintes e desde então existia essa expectativa pro retorno dos dinossauros, afinal de contas, nenhuma outra franquia tem direito de afetar o monopólio de Jurassic Park. Simplesmente não há espaço para alguém trabalhar com dinossauros no cinema sem citar a série ou o trabalho do escritor Michael Crichton.
Mais de 20 anos se passaram desde a estreia de Jurassic Park e o lançamento do divertido Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros (Jurassic World, 2015), de Colin Trevorrow. Digo divertido porque o diretor consegue realizar boas cenas de ação, trabalha bem o suspense e a tensão, cria personagens carismáticos, mas parece apenas uma boa e velha sombra de tudo que já vimos nos três filmes anteriores. O charme está mesmo na participação dessas fascinantes criaturas chamadas dinossauros.
Decididos a trazer de volta o sonho de John Hammond, um grupo de investidores cria um novo parque dos dinossauros. Só que acharam interessante criar uma espécie híbrida para deixar o público com mais vontade de visitar o parque. O que os “geniais” cientistas do laboratório do Jurassic World não sabiam é que estavam dando origem para a primeira espécie de dinossauro com DNA do Jason Voorhees. O bicho é uma versão com braços do T-Rex e um desejo incontrolável pela morte e destruição. Claro que ele escapa do seu cativeiro e começa a virar um enorme pesadelo para os investidores e para as 20 mil pessoas que estão “curtindo” a vibe do parque.
O curioso é que Jurassic World parece ficar em cima do muro em relação ao ato criminoso de expor animais para o prazer dos humanos. Existem pistas de que a natureza é livre e animais não pertencem a ninguém. A prova maior disso é que os bichos sempre fogem do controle e (para a alegria geral do público – e dos defensores dos animais, que provavelmente é a melhor causa para ser defendida em tempos atuais) e matam todo mundo que, vejam bem, PAGOU para estar ali se “divertindo”. Uma delícia. Mas por outro lado, o filme consegue retratar perfeitamente a essência do que é visitar um zoológico, a empolgação das crianças e a curiosidade dos adultos em ver um dinossauro gigante se alimentando de um tubarão igualmente gigantesco. Como o cinema é a arte da interpretação, e para isso cada indivíduo depende exclusivamente de suas próprias experiências, fica aberta a visão da série sobre isso. Ainda que seja bem possível interpretar tudo como uma crítica sutil focada especialmente na diversão do seu público. Até mesmo depois da repercussão do documentário Blackfish, que trata exatamente sobre as horríveis situações a que eram expostas as baleias no parque aquático Sea World. Uma verdadeira aberração. Mas não vamos nos aprofundar nessas águas profundas agora porque me transformaria num babaca que deixa visões culturais, políticas e religiosas interferirem mais do que deveriam numa obra feita com o único intuito de divertir o público e conseguir boas receitas. (De qualquer maneira, é um belo exercício torcer para ver os dinossauros arrancando cabeças do máximo de pessoas possíveis)
Aliás, em determinado momento do filme realmente existe uma discussão filosófica sobre o parque. De um lado temos a protagonista interpretada pela sósia da Jessica Chastain, a Bryce Dallas-Howard. Sua personagem, ainda que seja clichê, é muito bem apresentada como uma autêntica workaholic insensível e concentrada demais nos números do seu trabalho. Enquanto ela discute com o seu chefe sobre custos e resultados de pesquisas de aprovação do público, ouve como resposta que o mais importante era medir a alegria e diversão dos dinossauros (!!!) e das pessoas. E como chefe é chefe, ela fecha a boca e ouve tudo contrariada e sem dar um pio. Esse detalhe é interessante para mostrar uma possível contradição no discurso do investidor do parque. Se nesse primeiro momento ele aparece como um defensor dos animais, basta o seu parque entrar em colapso para tratar de ver os dinossauros como os números que a sua funcionária de marketing tanto dizia, no caso no dinheiro gasto para desenvolver essa espécie híbrida que causa todos os eventos da produção.
No elenco também temos Chris Pratt (Guardiões da Galáxia) como um Indiana Jones domador de dinossauros. Ele representa o lado do bem do roteiro. Um sujeito limpinho, sem defeitos morais e apaixonado pela personagem de Dallas-Howard. Ou seja, totalmente previsível em suas ações. Isso poderia irritar qualquer um, mas com o rosto e carisma de Pratt, fica difícil ter preguiça ou torcer contra. Vincent D’Onofrio (o Rei do Crime na série do Demolidor) é um inescrupuloso empresário que acredita ser possível usar os Velociraptores como armas de guerra. Oh, yeah! Ainda temos a dupla de jovens para atender o target infantil: felizmente os dois adolescentes divertem e são personagens bem escritos, além de funcionarem como alívio cômico nos momentos corretos.
A previsibilidade do roteiro chega a ser frustrante. Durante o filme inteiro lamentamos a falta de atenção para uma certa espécie famosa e fica óbvio que os produtores não seriam corajosos ou fortes o suficiente para rejeitar o caminho mais fácil de usar isso ao seu favor no final. Tudo bem. A gente até aceita. O problema é ver Dallas-Howard correndo de salto – o mais forte já criado na história do cinema, segundo os amigos Caio Lírio e Marcelo Seabra – e escapando do bicho. A conclusão da “luta final” também não chega a surpreender para quem prestou atenção nas pistas dadas ao longo da trama. Mas reclamar disso seria uma idiotice, afinal de contas: Jurassic World não é sobre discussões sérias. É um filme de aventura recheado de dinossauros. Isso é o suficiente!
Indicado para jovens e adultos de ambos os sexos, Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros é um prato cheio para os fãs desses bichos gigantes que tanto fascinam e chamam a nossa atenção. Em comparação com os três originais, não tenha a menor dúvida de que o primeiro permanece imbatível, mas esse novo exemplar pode ser encaixado facilmente no segundo lugar desse ranking jurássico. Sem ousar muito e com personagens carismáticos (como não gostar de uma ruiva insensível que vai amadurecendo em meio a perspectiva de ter os sobrinhos devorados por um dinossauro sinistrão?), a obra é garantia de duas horas de diversão num mundo fantástico e com efeitos digitais da melhor qualidade. Pena que o trabalho sonoro (incluindo aqui a fraca trilha sonora), não foi tão bem trabalhado como no original, mas Spielberg é Spielberg, né?
Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros (Jurassic World, 2015) Dirigido por Colin Trevorrow. Escrito por Rick Jaffa, Amanda Silver, Colin Trevorrow e Derek Connolly. Com Bryce Dallas-Howard, Chris Pratt, Vincent D’Onofrio, T-Rex, Blue, Delta, Charlie e Echo.